O Mineiro
Entravam e saíam depois de beber, comer e comprar cigarros. Muitos ficavam encostados às paredes a beber e a olhar para um lugar indefinido. Quando ele chegou parecia um velho despenteado. Barba por fazer, desalinho na roupa esfarrapada, pele escondida sob uma camada de pó escuro. Sorriu-te com a boca cheia de dentes tortos e, como quem não sabe falar ou pedir, apontou a garrafa do bagaço e engoliu, de um trago, o líquido transparente. Curvou-se para te mostrar a pepita que prendia entre o polegar e o indicador, de modo a que só tu a visses. Chamaste o rapaz do armazém para te substituir ao balcão, tiraste o avental e desapareceram ambos para uma noite fechada. Quando regressaste já tinhas a pepita na boca e já o homem desaparecia na cerca iluminada dos barracões anexos à mina. Uns dias depois o homem voltou com dinheiro gordo e de novo se entenderam para um sexo rápido e sem interesse. Seria assim todas as vezes que ele viesse e mostrasse ter com que pagar-te os favores. Uma noite, porém, quem entrou foi um homem alto, forte, limpo e bem vestido que só reconheceste pelo modo familiar com que te avaliou e sorriu. –Hoje quero estar contigo a noite toda, disse. Olha isto, acrescentou exibindo a pepita, invulgar em tamanho. E levaste-o, como das vezes anteriores, para o teu quarto. Empenhaste-te para merecer a pepita que viste, aceitaste tudo o que propôs e, nessa noite, olhaste-o pela primeira vez com vontade de lhe agradar. Nos dias seguintes ele voltou para beber e conversar, para estar contigo. Sentias que ele gostava verdadeiramente de ti e começaste a preterir os outros homens para tornar especial a vossa relação. Sabias das muitas pepitas que ele escondia e pensaste em consegui-las aos poucos. Quando a sua ausência já te pesava, soubeste que o mataram para lhe roubar o ouro. Era ele o teu amor. Só por isso deixaste que o seu filho crescesse no teu ventre.