O Diário de Sarah Stokes - Cap. 1
02:00 horas da manhã, madrugada fria e chuvosa. Eu rolava de um lado para o outro na cama, em nenhum instante minha mente parava de trabalhar. Sabe aquele sentimento estranho, de vazio, que te incomoda ate te fazer se descabelar buscando a solução? Pois é...era assim que eu me sentia naquele momento.
Moro em um apartamento não muito grande. Eu mesma o desenhei. Cada cômodo, cada detalhe, tudo criado especialmente para mim, enfim, o dinheiro realmente não compra tudo, o que ele pode fazer pra ajudar-te em uma hora como aquela é abastecer seu próprio bar. Então dirigi-me até o barzinho na sala de estar, abri uma garrafa de vinho e afoguei tudo aquilo que eu estava sentindo. Acabei por pegar no sono no sofá.
Meu celular despertou, 07:45 da manhã, terça-feira. Que dor de cabeça, ressaca do vinho, não devia ter bebido tanto! Eu tinha que ir trabalhar, não podia enrolar, tomei um banho, adentrei o carro desejando que ele fosse como a super máquina da tv e sozinho se conduzisse até o meu destino.
Eu trabalho na empresa de uma revista, ela cobre todos os assuntos relacionados a moda e estética, tendências etc, o nome é Bonne journée à la vie. Eu sou a presidente.
Pelo jeito aquele seria um longo dia, eu estava com a cabeça tão pesada que nem uma boa xícara de café pude tomar. No meio do caminho, peguei um sinal fechado, parecia que não ia abrir nunca mais, olhei ao lado, uma loja de livros. Nunca fui uma amante da leitura, mas algo me chamou a atenção para dentro daquela loja. Há sim, a moça do caixa. Como era linda! O sinal abriu finalmente e tive que continuar, mas fiquei a lembrar daquela mulher. Digamos que não sou o tipo de pessoa que tem sorte no amor. Sou assim desde a minha adolescência. Então depois de muitas desilusões, decidi dedicar minha vida somente ao trabalho, me casei com ele! Por fim, deveria rapidamente tirar as tais ideias da mente e seguir com minha rotina.
Chegando ao trabalho, fui direto para minha sala, logo me veio Susan, a secretaria, com o mostruário de algumas ideias para a capa de primavera.
- Bom dia Dona Sarah. Aqui está o mostruário para a capa da primavera!
- Oh sim Susan, pode deixa-lo aqui sobre a mesa que eu já vou avaliar, muito obrigada! E por favor Susan, poderia me trazer um café bem forte? Estive atrasada hoje.
- Claro que sim Dona Sarah, sem nenhum problema! Com licença!
- Muito obrigada Susan!
Depois que Susan se retirou da sala eu relaxei escorregando sobre a cadeira, como se faz quando se está na escola. Algo ainda da noite passada me incomodava, aquele sentimento estranho parecia estar voltando, que perturbador.
O dia passou tão devagar quanto uma lesma atravessando uma larga, larga e larga, muito larga, completamente larga rua. Quando pude juntar minhas coisas e ir para casa suspirei de alivio. Lembrei-me novamente da moça do caixa na loja de livros. Bem que eu poderia correr e tentar pegar a loja aberta, assim poderia entrar e vê-la mais de perto.
Como sou boba, acho que a carência chegou ao nível em que penso que todas as mulheres curtem outras mulheres. Eu não sabia nada sobre a tal mulher, nem ao menos se ela curtia o mesmo time que eu e se curtisse, eu não deveria continuar pensando nela, não era tempo de colocar meu coração pra bater mais forte e colocar minha vida em risco. O que quero dizer com isto é o que todos já sabem que acontece quando não se é correspondido como gostaria. Ficamos mal, bebemos pra rir e esquecer, passamos dias com uma dor de cabeça dos infernos, choramos durante o banho e passamos o dia nos perguntando onde foi que erramos, quando na verdade sabemos muito bem em que ponto que erramos, no ponto que eu estava prestes a ultrapassar.
Que sorte a minha, a loja estava aberta ainda, estacionei o carro e entrei. Não era uma loja muito grande, mas havia milhares de livros, acredito que para todos os gostos. A única sessão que prendera meus olhos por alguns segundos foi a de contos eróticos. Qual é? Quem nunca por precisão ou querer já se aliviou sozinho. Fui interrompida pela pergunta de sempre quando se esta em uma loja:
- Boa noite moça, posso ajudar-lhe?
Quando me virei me surpreendi, era ela, a moça do caixa, que pelo jeito parecia ser a única pessoa a trabalhar ali. Era tão linda de perto quanto de longe, do outro lado da avenida. Tinha cabelos claros, olhos claros, pele clara, tudo tão claro exceto por uma coisa, a resposta do que eu estava fazendo ali. Mesmo estando hipnotizada a respondi, antes que meu silêncio me fizesse passar por uma idiota ignorante:
- Boa noite! Sim pode, vocês vendem cartões?
- Sim temos! Pra todas as datas. Algo especial?
- Não não, por favor, você tem algum em branco?
- Ah sim, mas só temos em duas cores, azul e vermelho.
- Tudo bem. Desculpe rsrs mas qual é sua cor favorita?
- rsrs bem, eu gosto de vermelho!
- Perfeito, então eu vou levar um vermelho. Quanto custa?
- rsrs Que bom! Pois é $1,99.
- Ah sim, aqui está. Muito obrigada. Adorei a loja.
- Obrigada você! Volte sempre!
O que eu tenho no cérebro?!!! Me digam!!! O que eu vou fazer com um cartão em branco? E a minha cor favorita entre as duas era azul!
Sumi rapidamente dali com o carro. Não tirava aqueles minutos da cabeça, a grande e maravilhosa cena dela me atendendo me fez sentir como em um filme de romance, tipo o titanic sabe, só que em vez de um navio, uma loja de livros. Que droga, preciso parar de pensar e imaginar tantas asneiras! Estou colocando todo meu esforço para estar onde estou a perder! Nem prestei para descobrir o nome dela! Aquele olhar não me engana, com certeza ela deve no mínimo ser bi. Mas não importa, foi só um pequeno deslize, não voltará a acontecer. Chegando em casa jogarei esse pedaço de papel fora!
Resolvi passar antes no supermercado para comprar a janta! Também não sou muito do tipo que gosta de cozinhar! Eu como qualquer porcaria mais prática que possa ir direto no microondas. Algumas coisas no mundo são tão práticas!
Finalmente em casa, guardei as compras, saltos já jogados no meio da sala e meus lindos e cansados pés pra cima, era isso que eu precisava depois de um dia tão chato como aquele, o único bom momento foi aquele na loja. Aiii, quase me esqueci que tenho que esquecer isso! E falando nisso, o tal cartão que comprei, acho que o coloquei na minha bolsa, vou me livrar dele logo e de tudo isso e amanha será um dia melhor!
Peguei o cartão, mas não o joguei, tomei em mão uma caneta e anotei: "23/07/14, sua cor favorita é o vermelho!"
Por uma insistente teimosia, guardei-o em uma caixa de sapato vazia dentro do guarda-roupas!
Jantei, tomei um banho bem quente e relaxante, deitei-me com fones de ouvido no volume máximo, logo dormi profundamente!