Pedrinhas de criança...
Está doendo, está doendo de verdade. Eu pensei que passaria por lá, e que nunca olharia de volta para aquele contexto. Que ia ser só uma pedrinha tão pequena que eu seria capaz de voltar a infância e brincar de chuta-la, levando-a por meio dos chutes a qualquer lugar que eu fosse. E assim que entrasse em casa, a pedra ficaria na rua e não entraria mais na minha cabeça, até que eu resolvesse fazer um novo passeio e uma pedrinha diferente aparecesse no caminho.
Era só o que eu fazia quando criança, eu não tinha muito o que fazer então sempre que ia a padaria, fazia essa brincadeira com a pedra. Era uma espécie de jogo pra se jogar sozinho. Então depois de toda essa situação que criei, pensei que poderia facilmente voltar a infância e brincar sozinho outra vez, e não ter ressentimentos sobre deixar a pedrinha lá, e até mesmo me esquecer dela. Mas acho que não dá mais...
A pedrinha está lá fora, mas sua imagem mental continua aqui, fazendo meus olhos marejarem de saudades, e refletir sobre a escolha de deixa-la lá ter sido realmente correta. Eu me coloquei no lugar dela, e pensei que uma vida inteira sendo chutado, mesmo que com certo carinho em uma brincadeira, não seria nem de perto uma coisa bacana. E foi por isso que eu quis deixar essa pedrinha lá fora, pra que ela pudesse talvez arranjar alguém que a usasse pra construir algo grande, algo grande de verdade. E não mais apenas brincar, ir e voltar.
Mas ao mesmo tempo agora que reflito sobre a escolha de deixar a pedrinha, penso que a pedrinha é uma pedrinha, e por natureza é uma coisa forte que não se machuca com o meu brincar. Mas que se machuca com o meu deixar, que passa frio sozinha durante a noite, e que se sente sozinha no canto escuro da calçada em que a deixei. Mas tudo vai ficar só nessa reflexão, porque acho que não dá mesmo pra voltar e brincar mais. Porque essa pedra era uma especial, e quando eu a abandonei, eu a machuquei como nenhum de meus chutes havia feito.