Amor na Cidade do Sol cap 3/6

Na semana seguinte o vento da maldade levou uma jovem da aldeia que foi pega contrariando as ordens do prefeito. A louca gritava aos quatro ventos que o prefeito era um bruxo, e que fazia o que queria pois ninguém o contrariava. Foi acorrentada na praça central da cidade do sol. Ficou ali em pé por algumas jardas de sombra, até que de repente começou a ser puxada em direção ao morro mais alto daqui. O seu corpo parecia ser de papel e flutuava em alta velocidade. Um bom tempo depois ainda ouvia os seus gritos e o barulho das correntes que batiam umas nas outras. Ninguém impede. Ninguém faz nada. Parecem concordar.

Este espetáculo grotesco causou arrepios de horror em Atilde pois ela sabia que poderia ser a próxima. A jovem que era levada “Pelo vento da maldade” nunca mais era vista. Voava com corrente e tudo para o alto da montanha e sumia. As próprias correntes a puxavam como se um fantasma estivesse puxando-as. A ventania que fazia no momento do acontecimento, não deixava ninguém ver com clareza o que acontecia e para onde a moça era levada.

Durante dois dias seguintes o vento soprava com força na Cidade do Sol. Depois amanhecia calmo como se nada tivesse acontecido. Ninguém tocava no nome da moça. Tinham medo de que o Deus Sol mandasse o Vento da Maldade castigá-los. Para eles o Vento não era mau, apenas tinha a função de carrasco, para castigar os maus. Aqui vivemos em comunidade. Tudo é dividido, inclusive e principalmente as tarefas. Somos separados por sexo e idade.

Nas moradias grandes, feitas de pedra, vivem as mulheres mais velhas e as meninas de quatorze luas pra frente. Nas moradias de pedra gigante feitas em forma de pirâmides moram os homens de todas as idades que não tem uma dádiva. As crianças do sexo masculino e feminino, vivem juntas em uma moradia separada até completarem quatorze luas, com algumas mulheres que tem a função exclusiva de cuidar das crianças e educá-las pro futuro. As meninas são educadas pra servirem ao seu Senhor e aprendem a fazer cestarias(embora nem todas consigam), túnicas para a vestimenta, cobertas para cobrir no frio e preparar alimentos, mas só farão oficialmente, depois de fazerem quatorze luas. Então haverá uma festa para a passagem da fase de criança para adulta e ela passa a morar com as outras mulheres viúvas e as que não tem Senhor.

Os homens são preparados desde a infância pra serem senhores das mulheres. Também há uma festa pra mudarem de moradia. Ninguém escolhe a dádiva e nem o senhor. É o prefeito quem manda em tudo e em todos. Os homens trabalham na lavoura e na confecção de moradias para os recém-entregues que não podem mais morar junto com os outros nas moradias grandes. Depois que se emancipam e passam a ter uma morada especial passam a trabalhar em outro lugar. Ninguém sabe onde.

Alimentamo-nos de vegetais que os homens plantam. Frutas deliciosas, verduras e legumes. Castanhas e palmitos. Também temos a festa das colheitas por aqui. São várias festas pois a cada época se dá um tipo de colheita. Temos também um armazém pra armazenar os alimentos que não são perecíveis.

Fazemos as ceias em uma casa especial que foi preparada a mando do prefeito. É lá que tem também um refeitório especial para as crianças. Elas não podem ser maltratadas de forma nenhuma. A educação se dá pela repetição e pelo exemplo.

A cultura local é passada de anciãos para os mais novos através dos tempos. As crianças são levadas a morar na moradia de crianças logo que completam cinco anos de idade. Assim seus “pais” não são chamados assim. Se referem a eles pelo nome que receberam ao nascer. Lá recebem todo o acompanhamento de que precisam pra crescerem inteligentes e educados. Mas principalmente a respeitar, obedecer e temer o Prefeito, Adorar o Deus Sol e a respeitar a vontade do Vento da Maldade.

As meninas aprendem que a Deusa do amor governa os corpos e o coração, e que a Lua se reveste de uma Deusa sempre que muda sua forma.

Atilde sempre acreditou em tudo isso até o momento em que se doou pra key e começou a se revoltar contra esse sistema. Queria Kay para si e não queria abrir mão disto. Sabia agora, porque o prefeito não queria misturar as pessoas. Era para que ninguém sentisse o que ela sentira ao se doar a Kay. Esse sentimento gerava vontade própria e assim questionamentos que ele não quereria responder.

Havia um poder em Kay que o prefeito dominava. Esperaria a noite chegar e tentaria fazer com que Kay mudasse a vontade do pai. Ele tinha poderes e certamente conseguiria.

A noite chegou e ela foi para a cachoeira. Encontrou lá o pai de Kay. Não sabia porque, mas ele estava lá e a a avisou que estava muito longe da moradia de mulheres e que deveria voltar para lá urgente. Não levou uma jarda de tempo pra chegar em casa. Ficou desesperada pensando no que poderia ter acontecido a Kay. Tentou se concentrar nele e se comunicar com ele. Afinal ele não lera seus pensamentos? Mas o Prefeito a avisou mentalmente que era pra obedecer e não questionar. De alguma forma seus pensamentos se cruzaram e ele conseguiu interceptar sua energia, mas não entendeu o recado. Ainda bem pois do contrário, seria levada pelo Vento da Maldade.

Passou uma lua nova desde que acontecera a noite de amor entre eles e ainda não conseguira ver Kay novamente. De alguma forma a noite, dormia profundamente e sentia que conversava com ele mas não se encontravam. Sabia que não eram sonhos. Antes que a lua nascesse, Recebeu uma mensagem de Kay para ir encontrá-lo na cachoeira. Chegando lá ele a esperava em cima da pedra. Seus olhos se encontraram e logo as chamas da paixão os arrebatou. Foram instantes de fogo ardente que os consumiu. Saciados, os dois amantes, colocaram pra fora toda a saudade que os consumia desde que se viram a última vez Mas Key tinha notícias muito tristes para ela. Não poderiam se encontrar de novo por muito tempo.

O prefeito estava desconfiado. Ele podia ler pensamentos e corriam riscos. Kay estava esquisito. Parecia mais fraco e nem conseguiu levantar Atilde pra descer da pedra. Por pouco não caíram os dois dentro da água. Seu semblante estava cansado. Mas sentiu-se amada por ele. Quando iam embora pra casa e se despediam Atilde teve um desmaio. Kay ficou preocupado mas disse pra ela não se preocupar porque este tipo de coisa era normal depois do que fizeram. Voltasse para a moradia das mulheres e não deixasse transparecer nenhum sintoma que sentisse.

Kay partiu pra casa sentindo-se culpado pelo que poderia acontecer a Atilde. As mulheres da aldeia certamente reconheceriam seus sintomas. Ele sentira perfeitamente a presença de mais alguém entre eles. Atilde fora fecundada por ele. Precisava fazer algo o mais depressa possível, mas ainda não sabia o que fazer. Por enquanto, camuflara a energia da criança, para os sintomas não se manifestarem.

Tentou chamar o pai telepaticamente, para falar-lhe mas ele andava ocupado com algo que ele não sabia o que era. Então foi atrás do pai com seu sexto sentido. Sabia que ele estava dentro da montanha. Entrou numa caverna no topo da montanha e seguiu por um caminho sem deixar transparecer seus pensamentos. Não queria que o pai soubesse de sua presença. Queria saber o que ele tanto fazia dentro da montanha. Ouviu barulhos e ficou cismado. Usou seus poderes para se camuflar e não ser visto. Andou durante boas jardas de tempo até encontrar uma varanda de aço e de la pode ver algo que o fez ficar estarrecido e mudo por um momento.

Trabalhando dentro da montanha, no que parecia ser a extração de algum minério especial, estavam todas as moças que o rejeitaram e mais as outras que contrariaram a vontade do prefeito e tentaram de alguma maneira difamá-lo.

Kay chorou ao ver a cena. As correntes que prendiam as meninas eram grossas e elas trabalhavam com instrumentos de duas pontas tão pesados, que mal conseguiam levantar. Meninas, mulheres e anciãs faziam o mesmo trabalho debaixo de chibatas de cipó.

Era muito sofrido ver isto bem debaixo de seus olhos mas ele não podia fazer muito por elas pois estava preocupado com Atilde. Saiu correndo pra fora da montanha e voltou ao seu quarto especial no topo da casa do prefeito. Brotou em seu coração, um sentimento esquisito que nunca havia sentido. Desejou por fim a vida de seu pai. Vê-lo gritar com meninas e mulheres e chicotear anciãs, fê-lo compreender e conhecer o verdadeiro homem que havia dentro dele.

Dentro da alcova seus poderes aumentavam. Sentiu que o pai não permitiria que ele e Atilde vivessem juntos e chorou profundamente. Sentiu-se vulnerável como nunca havia se sentido antes daquele momento.

Atilde chegou em casa quando o jantar estava sendo servido. Levava nos braços uma braçada de legumes, frutas e flores que foram recebidos com profusão de elogios de suas companheiras. Sentia-se mal. Não tinha fome e a comida lhe dava ânsias. Queria dormir pois estava cansada mas suas companheiras estranhariam o cansaço repentino dela, que era sempre a mais enérgica. Não sabia o que significava aqueles sentimentos e males que a estavam afetando nos últimos dias.

Mas iria apenas obedecer ao seu Senhor Kay que lhe disse pra não deixar transparecer seus males pra ninguém e que era normal sentir tudo aquilo e confiava nele. As anciãs estranharam-na mas ela disse que tinha levado uma queda e que se machucara. Deram-lhe remédios caseiros mas ela instintivamente não os bebeu, jogando-os fora sem ser notada.

As mulheres da Cidade do Sol estavam preparando a festa de entrega de cinco crianças que completavam cinco anos de idade e seriam entregues a elas. A nossa moradia tinha que estar linda para recebê-las. Não era preciso pedir a todas que estivessem muito Alegres pois as crianças eram estimuladas pela alegria do ambiente. Era a melhor festa da aldeia. As comidas rolavam soltas entre todos mas o cauim não era servido aos adultos pois era uma ocasião infantil. Atilde pos-se bem longe da comida. Uma menina loura de seis anos olhou para ela e disse:

_ Ele quer comer. Porquê você não vem? E apontou para seu ventre.

Continua...

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 01/10/2014
Reeditado em 18/08/2015
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