Amor na Cidade do Sol cap 1/6

ATILDE E A CIDADE DO SOL

Esta é minha cidade e eu sou Atilde. Corria pelos campos entre as flores e senti um calafrio que me fez parar.

A bela indígena de estatura um pouco baixa mas de beleza inigualável tinha a agilidade de uma gazela. Seus olhos eram de um negro brilhante. O vento soprou com força e levantou seus longos cabelos negros, pondo-os em desordem. Correria pra casa antes que o vento maior chegasse. Dhil lhe avisou que um dia ele viria e levaria a gente pra longe. Tinha que ter cuidado. Nos últimos tempos haviam sido levadas outras vinte e duas meninas da Cidade do Sol. Ela não queria ser a próxima.

O Sol era um Deus muito bom para os habitantes da Cidade do sol que tinham-no como ser supremo. Plantavam em época de águas e colhiam na época em que o Deus Sol aparecia superior no céu. Ele brilhava sempre que estava gostando da gente. Mas sempre que ficava zangado ele ficava sem brilho nenhum. Ficava tudo escuro e as plantações ficavam todas queimadas. Era Horrível e minha mãe sempre dizia pra não maldizer o Deus Sol.

Quando a colheita findava a gente fazia festa pra comemorar e fazia oferendas pro Deus Sol. Todos traziam um pouco da colheita, e tinha que ser o melhor. As oferendas eram colocadas em um altar de pedra que ficava no centro da Cidade do Sol. Ao Meio Dia a gente fugia de lá pois acontecia sempre a mesma coisa. Um raio de sol muito quente vinha do alto da montanha e queimava tudo. Era muito poder pra gente entender. O prefeito dizia pra gente não tentar entender. Ele se chamava Abisir e era muito esquisito. Vestia uma túnica colorida de linho branco e tinha uns poderes estranhos. Eu não gostava dele e sempre que o encontrava, ele adivinhava meus pensamentos. Tinha a sensação de que ele tinha algum plano pra mim.

Absir tinha um filho mas ninguém o via. Ele estava sendo preparado para ser o futuro sacerdote do Deus Sol. Nunca o veríamos pois se assim fosse ele seria rejeitado pelo Deus Sol.

A população da cidade do Sol estava crescendo muito e o vento da maldade vinha toda lua escura buscar alguma pessoa, pra diminuir as bocas que consumiam alimento. Tínhamos medo do prefeito e respeito pelo Deus Sol. Se o vento viesse o seguiríamos só pra proteger a cidade. Mas dizem que a gente não tem escolha pois ele leva a gente quer a gente queira ou não. É ele quem decide.

Na última lua escura, uma amiga minha tinha ido embora com o vento da maldade. Éramos muito próximas e agora estou muito solitária. Vivo pelos cantos na esperança de que o vento me leve pra junto dela. Todas as noites espero a lua nascer pra ver se ela é escura.

Numa das noites eu estava esperando perto da cachoeira do riacho transparente e ouvi um barulho. Me escondi pensando que fosse o Vento mas era apenas um rapaz se banhando. Ele era muito bonito. Cheguei mais perto pra ver e não o reconheci. Ele não parecia ser da Cidade do Sol. Dentro do riacho, nadando, lembrava um Deus. Fiquei escondido atrás de uma pedra alta pra ele não me ver. Durante muito tempo o rapaz nadou. Parecia bailar sobre as águas. Seu corpo nu me chamava como se a época da reprodução já tivesse chegado pra mim. Eu estava encantada por ele mas não ousava falar com ele. Isso seria terrível pra nós dois, afinal eu era uma virgem prometida pra alguém que ainda nem conhecia.

Aqui na Cidade do Sol as moças são escolhidas para a reprodução quando completam 18 anos de idade. Temos que ser avaliadas pra não haver raça estragada. O Prefeito, Absir é quem escolhe. Dizem que é algo sobrenatural. A moça passa uma semana com ele sem ser vista por ninguém. Depois da avaliação secreta que o prefeito faz, a moça aprovada é indicada para um rapaz escolhido pelo prefeito.

Somos entregues em uma cerimônia especial. A Praça das oferendas fica muito linda. E a gente é revestida de flores. Ficamos muito lindas. Toda moça sonha com esse dia. Depois nos tornamos a eleita dele e não mais o deixamos. Pertencemos ao rapaz. O homem passa a ser chamado de Senhor por ela e a moça de dádiva dele.

Um rapaz não pode ter mais do que uma dádiva, a não ser que ela seja entregue ao vento da maldade. Geralmente isso não acontece. A não ser que ela se entregue a outro rapaz, sendo dádiva de outro senhor. O tal rapaz será apedrejado por todos os moradores da cidade do sol e ambos serão doados ao vento da maldade.

Eu pensava em tudo isto quando acidentalmente caí da pedra dentro do riacho. Eu nem deveria estar ali e por isto comecei a chorar de medo. Um rapaz me vira molhada com as roupas coladas no corpo. Isto era proibido e eu poderia ser punida por isso. Ele me acalmou e disse que não precisava me preocupar. Seu nome era Key e era ele quem avaliava as moças pra entregar ao futuro Senhor. No princípio não entendi. Sempre pensei que o Prefeito era quem fazia isso. Ele me pediu pra não ir embora pois se sentia muito sozinho. Eu também estava sozinha e não queria que ele se sentisse como eu. Resolvi ficar mais um pouquinho só. Era festa do amanhecer na aldeia e todos estavam muito ocupados. Não sentiriam a minha falta.

A noite passou muito rápido e quando vimos o amanhecer já estava chegando. Ele teria que voltar sem ser visto e eu também não queria ser vista ao seu lado. Passamos a noite inteira conversando. Fiquei sabendo tudo sobre ele. Tinha poderes muito especiais. Tocou com o dedo indicador o meu semblante e logo fiquei calma, quando estava nervosa. Tinha uma aura brilhante em volta dele que me enchia de amor. Era como se ele fosse mensageiro do Deus Sol.

Encontrei Key muitas vezes na mesma cachoeira do riacho transparente. Aprendi a respeitá-lo muito e a ter muito carinho por ele. Nunca nos tocamos mas juro que me sentia enlevada na sua presença. Ele contou-me que seu pai descobriu seus poderes desde muito cedo e passou a usá-lo pra fazer da Cidade do Sol tudo o que quisesse.

continua...

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 29/09/2014
Reeditado em 18/08/2015
Código do texto: T4981034
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