Qual fere mais? Facão ou solidão?
Com uns versos dissonantes gemia a velha viola arguta na ânsia de produzir um tilintar que acalmasse aquela uníssona alma. Olhava ao longe um vazio de nada... era a paisagem engolida pela solidão. Podia haver ali à sua frente o paraíso, mas seu cérebro frívolo pelas manhãs que se sucediam sem a mercê da fragrância de lavanda da alva dona, que já há muito tempo descampara em busca de outros caminhos, levara consigo seu coração. De nosso sofredor, sua solitária alma, hoje jaz em uma tumba rasa.
Em labirintos correm questionamentos. Haveria sido a solidão de uma terra com progresso hirto? O tão estoicista desapego dos frutos do capital? A vida dura no campo? As luzes naturais a aclarar o dia e a noite? As brigas com o clima? Ou tudo se responderia com a ausência do amor? Seria a volta à busca do príncipe encantado, das histórias de outrora? Quiçá, um amor platônico? Talvez fosse somente isso... Talvez não... pois quem conhece a fundo uma alma? Todavia, jamais entenderia.
Enquanto a resposta não se fazia presença, o cancioneiro local se enriquecia. As tavernas acalentavam-no. O trago na goela apagava cada triste... e um pouco das felizes e saudosas lembranças...
Sobrava fio, o facão na cinta. Impunha respeito. As lutas, cada uma sua vitória. Estas sim agora valem realmente a pena, por que Helena... Essa... pelo jeito... já não mais voltará.
Marcio José de Lima – Laranjeiras do Sul - 23/09/2014