AS FLORES DE PLÁSTICOS NÃO MORREM(EC)
Dona Yolanda por que a senhora não joga fora aquelas flores de plásticos?
- Ah, Mariana, é uma história longa e não sei se você teria paciência para ouvir.
- Tenho, sim! Conta, vai!
Conheci Alberto quando fui passar as férias de Verão na fazenda de meu tio onde ele trabalhava cuidando dos cavalos. Quando meu tio nos apresentou senti seu olhar tímido me abraçando e uma sensação até então desconhecida tomou conta de mim.
Com o passar dos dias fomos nos aproximando e todo o entardecer ele me dava uma rosa branca e outra vermelha e somente seus olhos falavam o que elas representavam.
Num entardecer muito bonito ele tomou coragem e me disse que tinha amor por mim Trocamos um suave beijo.
Quando meu tio percebeu que eu estava me envolvendo com Alberto chamou- me a atenção para a desigualdade financeira e social que existia entre nós mas eu nem liguei. Estava enamorada e sempre dava um jeitinho de encontrá-lo.
Nossos encontros passaram a ter mais ousadia e nossos beijos já permitiam abraços longos e demorados.
Numa manhã de Domingo chegou à fazenda um homem trazendo um recado para Alberto.A mãe dele estava muito mal de saúde e chamava por ele.
Não houve tempo para despedidas e meu amor se foi com o olhar mais desolado que já vi nesse mundo.
- E as flores de plásticos, onde elas entram?
- Eu disse a você que a história é longa mas tentarei resumir porque já estou tomada pela saudade.
Dias se passaram e nada de notícias dele e estava chegando o dia em que eu, também, teria que voltar para casa. Meu tio dizia nada saber do paradeiro de Alberto mas me comunicaria tão logo isso acontecesse. Eu sabia que ele estava mentindo.
Voltei para casa de meus pais. Saudade e noites mal dormidas me dominavam.
Dez anos se passaram. Meu tio vendeu a fazenda eu mudei de cidade e estava noiva do Gabriel e iríamos nos casar em breve.
Na véspera do casamento a campanhia da casa tocou e quando fui atender fiquei paralisada - Alberto estava diante de mim e trazia duas rosas de plásticos - uma branca e outra vermelha.
Meu coração disparou e eu não sabia o que falar . Ele quebrou o longo silêncio que nos envolvia.
- Soube, depois de muitos anos te procurando, que vai se casar e vim trazer essas flores para você esquecer em qualquer canto da casa - elas não morrem, resistem ao tempo.
e que aquelas rosas significavam amor e paz e que era isso que ele queria ter tido a vida toda comigo.
Tentei explicar meu empenho em encontrá-lo, que ele seria sempre importante para mim mas ele não quis me ouvir e foi embora com passos rápidos.
Desnorteei e pensei em adiar o casamento mas não tive coragem.
- Nossa, dona Yolanda, com todo respeito, que história complicada e mal resolvida a senhora viveu. Seu Gabriel nunca lhe perguntou por que a senhora mantém até hoje aquelas flores de plásticos tão conservadas,logo a senhora que ama a natureza?
- Sim e uma vez quase as jogou fora mas eu disse que tinha sido presente de minha mãe e nada mais foi falado.
- Mas semana que vem será sua bodas de ouro. Faz sentido manter duas flores de plásticos por meio século dentro de casa?
Mariana, o amor que senti por Alberto ainda vive e viverá dentro de mim para sempre. Eu também amo o meu marido. São amores diferentes.
Ao contrário do que ele pensa em momento algum eu matei o sentimento que nos uniu quando tínhamos 16 anos.
Existem sentimentos que não conseguimos explicar por mais que façamos usos de todas palavras existentes.
- Eu acho uma loucura tudo isso mas a senhora manda e eu vou é tratar e deixar as rosinhas bem bonitas para a festa.
http://encantodasletras.50webs.com/floresdeplasticonaomorrem.htm