A VELHA ÁRVORE DA INFÂNCIA - 4/5 cap.

Mas as árvores são para servirem aos humanos!!!

_ Se morrermos por maus-tratos, não serviremos para nada. O seres humanos nos vendem, nos cortam e nos matam para depois nos descartar como lixo. Esquecem que filtramos o ar para eles e fazem mais fumaça para poluir o ambiente. Ainda bem que estou plantada bem longe da civilização. Ou do que eles chamam de civilização.

_Como eu poderia conquistar minha liberdade?

_ Que tal lhe parece, continuar estudando, conseguir um trabalho, ser alguém e mandar em sua própria vida?

_ É mas nem sei o que queria ser.

_ Pense nisso. Quem sabe encontra esse alguém mais cedo do que pensa?

_ Será?

Silêncio. Os passarinhos começam a cantoria outra vez, dessa vez com mais força. Ela olha esperançosa de que o tal rapaz apareça, mas em vão. Resolve ir embora e cuidar da própria vida.

_ Tchau árvore. E obrigada!!

Silêncio

O passaredo se acalma e Júlia se afasta da árvore quando de repente, tropeça em uma pedra e cai. Vai rolando morro abaixo e acorda. Está sentada aos pés da árvore. Era tudo um sonho!?!? Pensa um pouco e vai embora pra casa.

_Pode até ter sido um sonho, mas resolveu que estudaria para fazer faculdade. Ficar com raiva do pai e da mãe por tê-la separado de Pedro, não a levaria a nada. Mas por via das dúvidas, voltaria ao local da árvore amanhã.

Por vários dias, Júlia estudou e quando o sol esfriava, voltava a velha árvore. Mas ela não falava mais com ela e o tal rapaz de barba também não aparecia. Mas tudo isto lhe parecia um sinal, de que Pedro estava por perto, e que ainda a esperava. Sentia isso, mas não queria iludir-se.

Júlia seguiu com a vida adiante e estudou bastante. Passou em primeiro lugar no vestibular e seu pai ficou tão orgulhoso dela, que baixou a guarda. Ele instalou internet na fazenda e deixou o motorista a disposição de Júlia, agora, sem vigiá-la. Afinal ela não era mais criança. Ele tinha medo que ela ficasse pra titia.

Sua mãe se tornou uma companheira das melhores. Anotava os recados para ela, ajudava a fazer os trabalhos da faculdade e comprava tudo o que Júlia pedia, pois ela não tinha tempo pra nada.

O tempo passou e Júlia se formou em Medicina. Queria se especializar em clínica geral para ajudar as pessoas do interior, pois elas não tinham médico bom. Se formou também em agronomia pois queria ajudar o pai na fazenda. Levou uns dez anos estudando e trabalhando.

As vezes, o pai sumia na fazenda e Júlia imaginava que ele estava cuidando do gado. Mas sempre ficava aquela pontinha de curiosidade: Será que o pai ia visitar a árvore?

Um dia, Júlia foi a Igreja Católica do Sagrado Coração de Jesus que ficava no centro de Indianei, e encontrou o rapaz do sonho sentado no último banco. Então descobriu que ele existia. De alguma maneira o vira entre o sono e a realidade. Sentou-se a seu lado. Estava sujo e maltrapilho. E conversou finalmente com ele. Todos se espantaram pois o rapaz não conversava com ninguém, nem com os pais. Ficava sempre quieto na igreja como se conversasse com Jesus, em silêncio. Ficaram amigos naquele dia. Ele falava sobre tudo, menos sobre sua vida intima. Ela também. Ambos queriam esquecer o passado para viver somente dali pra frente.

Continua...

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 08/09/2014
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