A VELHA ÁRVORE DA INFÂNCIA - 3/5 cap.

A Árvore.

Enquanto ria de si mesma e do rapaz, uma voz ribombou em seu cérebro lhe dizendo: Cuidado com ele!!! É muito especial. Não brinque com o coração dele, que ele já foi ferido há muito tempo atrás e nunca se recuperou.

Assustada, Júlia correu pra todo lado pra ver quem falava. E gritou:

_Quem falou???

_ Eu, Ora essa!!! Não está me vendo? A árvore que te dá sombra.

_ Credo!! Acho que estou ficando louca!! Árvores não falam!

_ Credo digo eu!! Como ousa me ofender desse jeito mocinha? Já vivi bem mais do que você. Fui companheira de infância de seu pai e ele nunca me ofendeu!!!

_ Será que eu estou sonhando!?!?!

_ Não. Não está. Veja no tronco uma mensagem que seu pai me cravou na infância. Doeu muito mas eu permiti.

Júlia deu uma volta ao redor do tronco da grande árvore e viu, bem no centro dele, um coração cravado a faca e dentro dele escrito: Paulo te ama. Paulo era mesmo o nome do seu pai. Mas ele nunca falava sobre isso.

_Quem Paulo amava?

E a árvore lhe respondeu:

_A mim, é claro.

Por mais que tudo isso fosse difícil de acreditar, mais difícil ainda era acreditar que seu pai, o Senhor Paulo, todo poderoso e cheio de moral e bons costumes, era amante de uma árvore. Então perguntou:

_ Tá falando sério? É o meu pai mesmo?

_ Sim é o seu pai. Ele já foi menino e podado como você. Todas as crianças já tiveram uma árvore amiga na infância. Seu pai era diferente. Cresceu e continuou a amar as árvores. E você parece com ele. Li seus pensamentos quando chegou aqui. Você está tão magoada, Júlia, que nem pensa.

_ Pensar pra que, se não sou dona dos meus caminhos e decisões. Não posso amar quem eu amo e nem viver meus próprios sentimentos?

_Seu pai também um dia foi obrigado a sentir o que os adultos mandaram. Ele também teve que sofrer em nome da “moral e dos bons costumes”, como diz você.

_ Por isso mesmo não deveria ter me feito sofrer.

_ Você acha que sofreu? Não sabe de nada menina!!! Sofrer mesmo, você sofreria ao lado desse menino, com uma criança nos braços. Logo estariam arruinados a pedir esmolas na rua. O amor cega e deixa a gente sem ação. Seus pais fizeram o que era certo pra você. Os humanos não pensam com a cabeça mas com o coração. Acaso, nós as árvores não somos podadas? É claro que não fazemos nada que possa nos remeter a uma tristeza destas, mas somos podadas a todo momento. Sei que foi difícil pra você, mas tente entender.

_ Eu só queria ser feliz!!

_ Quem te impede agora!!!

_!!!!???

_ Olha Júlia, os humanos podem conseguir o que querem, mas nós as árvores não. Não posso sair daqui e graças ao Criador, o seu pai me ama e não mandou me arrancar para fazer mais pasto.Vês que aqui é um pasto???? Sim, ele ama a natureza porque eu ensinei a ele.

_ Sim. É verdade. Ele volta aqui???

_ Não. Faz umas duzentas luas que ele não aparece.

_ Você sabe contar???

_ Seu pai me ensinou. A ler também. Ele lia e eu lia a mente dele. Adoro dar sustos nas pessoas que vem aqui. Sempre saem correndo quando ouvem a minha voz. Só um rapaz não se assustou.

_ Aquele?

_Sim. Não consegui ler a mente dele. Foi ferido. Seu coração se bloqueou para o mundo. Acho que foi o amor. Não tira os pelos do rosto como seu pai. Não se lava com água também. Está estranho. Observou-te com os olhos brilhantes. Vem aqui todos os dias. Fica horas, me faz carinho e depois vai embora. Não falei mais com ele. Mesmo assim ele continua a vir aqui. Acho que ele sabe que sou viva. Não me maltrata como os outros seres humanos.

continua...

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 08/09/2014
Reeditado em 08/09/2014
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