Intervenção da Deusa

Afrodite entediada desceu do Olimpo com seus pés de beleza indiscutível a tocar as areias úmidas de certa praia nos trópicos. Ali nesse território tão longe da sua Grécia e ainda mais neste tempo onde os Deuses são vistos como meros contos de fadas, ela não esperava receber nenhuma homenagem, e de fato nenhum sacrifício em sua homenagem foi feito por ali. Mas nada lhe impedia que se divertisse com os mortais, e o calor dos trópicos apenas ajuda nos jogos.

Não muito distante dali se encontrava um casal de amigos. Sentados na areia conversavam sobre a vida... Como anda o trabalho? E a graduação acaba quando? Olha que mulher linda passando que vestido é aquele? Emendando conversas típicas e descontraídas sobre o tempo e o aspecto da lua com causos e contos das próprias vidas. Heitor conhecia Julia a anos, mas o relacionamento deles como tantos outros não seguia uma constante.

O reencontro dos antigos amigos aconteceu por artimanhas da deusa. Conheciam-se desde o ensino médio onde a principio não eram amigos. Até que certo dia bem perto de encerarem os estudos naquela instituição, ele por ventura sorteia o nome da moça para o amigo secreto que aconteceria antes da formatura. E sem saber com o que presenteá-la resolveu pesquisar sobre a vida da garota. Descobrindo assim, naquela menina de beleza mediana e comportamento padrão uma leitora fervorosa e escritora criativa. Com a pesquisa pôde acertar presenteando-a com um livro e um dos autores favoritos dela e recebendo de volta sua afeição. Depois disso tornaram-se mais próximos, trocavam mensagens no celular, sempre se falavam pelo facebook. E não faltava assunto: autores de interesse de ambos, filmes, artistas, séries de tv.

Nesse período entraram em faculdades diferentes, fizeram tantos outros amigos, outros contatos. É impressionante a quantidade de gente que gosta das coisas que você gosta até mesmo aquelas mais inusitadas. E do mesmo jeito que a amizade veio inesperadamente, inesperadamente esfriou. Logo no começo ainda trocavam mensagens, mandavam noticias e textos um para o outro, depois mal se lembravam um do outro. E nossa bela Afrodite observava-os como quem assiste capítulos de uma novela ruim apenas para matar o tempo que nunca lhe mata.

“Formariam um pelo casal esses dois. Pensei que com as semelhanças que têm apenas colocar o nome dela na mão dele e mostra-los o quanto se parecem seria o suficiente. E em apenas um momento de distração minha lá se vão eles por caminhos distintos.”

Assim insatisfeita ela criou neles a vontade de ir ao mesmo evento (lançamento de um livro) e lá se encontraram por acaso, então Heitor ofereceu a Julia uma carona. Do mesmo jeito que a vontade de ir aquele lançamento cresceu como cresce uma paixão a vontade de dar uma volta na praia cresceu neles. Julia sugeriu meio sem jeito “Veja como esse final de tarde está bonito, olha aquelas nuvens laranja, e estamos tão próximo da praia”... Ele entendeu a mensagem sutil e convidou-a para um passeio.

Após uma breve caminhada na praia sentaram-se na areia e começaram a conversar com mais liberdade, e por eles passou Afrodite com um vestido branco leve e longo a caminhar calmamente.

Os olhos dele focalizavam o contorno dos lábios dela e o desenho do seu busto. Ela olhava para aqueles olhos castanhos com desejo e afeto. A deusa ainda estava ali em forma de vento que bagunçava os cabelos da moça deixando-a de fato graciosa e meiga. Eles se sentiam em casa, agiam com total naturalidade mesmo disfarçando os desejos que cresciam neles. Entretanto a moça não resistiu mais o abraçou de repente sentindo seu perfume ao encostar levemente o nariz em seu pescoço. Ele apertou-a mais forte sentindo assim o volume do seu corpo e seu calor. E dentro de instantes já estavam a trocar beijos e carinhos e a cada beijo a vontade de ter um ao outro crescia mais e mais. A deusa já não estava mais naquele local, observava de longe o quanto eles se divertiam e decidiu não voltar para o Olimpo nem tão cedo porque já já vem o carnaval.