A VELHA ÁRVORE DA INFÂNCIA - 1/5 cap.

A velha árvore da infância.

Eram onze horas do dia quando Júlia chegou ao cume da montanha que circundava sua fazenda no norte de Indianei, pequena cidade do interior do estado. Tão Pequena que ainda não constava em nenhum mapa. Era recente a sua emancipação política. Na verdade, Indianei nem tinha delegacia, prefeitura ou qualquer prédio público. Apenas um posto de saúde que atendia precariamente a população, um pequeno posto do correio, uma escolinha de 1ª a 4ª série e uma estação de trem. Júlia se punha a imaginar porque a emanciparam. Talvez seja porque os coronéis da região assim o quizessem para disputar o poder local. Havia muitas fazendas na região. A pequena pracinha denotava a simplicidade do lugar.

As folhagens estavam verdes como se fosse sempre cedo, mas o sol estava de rachar naquela hora. O pasto era verde porque ali não faltava chuva. Os cogumelos nasciam no meio do capim, de tão úmida que era a terra por ali. Naquele dia de sol era preciso aproveitar. Júlia suava aos borbotões. Maldizia a hora em que, para fugir da mãe e de seus resmungos, resolvera subir a montanha. Nunca fizera isso antes. Conhecia a fazenda desde que era criança, pois pertencera aos seus avós, mas nunca se aventurara tão longe de casa.

Aos quatorze anos de idade, Júlia teve que vir morar na fazenda contra a sua vontade. Covardia!!! Estava apaixonada por um garoto da sua turma e por ele havia feito mil loucuras. Lembrava-se do dia em que os dois fugiram da escola para namorar. Pedro só tinha quatorze anos, na época, mas era lindo. Um lindo rapaz, com bigodinho ralo, músculos e peitoral pouco definidos. Até hoje se arrepiava toda só de lembrar do menino. Ele a fazia ir as nuvens. Um beijo e Júlia derretia-se toda. Todos os dias, Pedro levava-lhe uma flor e dava alguma coisa pra ela. Um bombom, um presentinho delicado, um docinho desses que Júlia adorava... Aprendera a fazer versinhos para ela e, acho que copiava de algum lugar, mensagens lindas, que a encantava. Sempre que Júlia estava triste ele cantava pra ela uma música linda que ele mesmo fizera em sua homenagem. Era mais ou menos assim:

“Amor na vida eu tenho/ e tenho mais que demais/ Seu amor me faz sereno / aumenta sempre um pouco mais. Me ama, me ama, me ama e me ama?” E fazia cócegas nela até a tristeza passar.

Cada dia ela estava mais envolvida por ele. Juntos viveram tantas aventuras que nem dava pra acreditar que tudo aconteceu em menos de seis meses.

No primeiro dia de aula, ele a abordou na entrada da E.M.E.M.”SOL DA MANHÔ,com um pedido de desculpas que mais parecia uma cantada.

_Desculpe-me, mas será que a menina pode me acompanhar? Eu sou novo aqui e não conheço a escola e tenho medo de me perder. A escola era grande mas não dava pra se perder. Tinha placas de sinalização por todo o lugar. Naquele dia conversaram até o sinal bater e só então, descobriram que estudariam na mesma sala. Tinham a mesma idade, o mesmo signo e por incrível que pareça, os mesmos gostos.

Júlia pensou que o menino queria agradá-la, mas tinha mesmo os mesmos gostos. A amizade foi crescendo quando se uniam para fazer os trabalhos da escola. Ele era considerado Nerd e ela também. Faziam ótimos trabalhos. Mas isso só no primeiro mês. Logo a amizade virou amor e ninguém sabe quando começou a ficar sério. Muito sério.

Aos quatorze anos não se sabe nada da vida e a gente faz muita besteira. Parecia que o resto do mundo não existia para eles. Não prestavam atenção nas aulas e nem faziam mais os trabalhos da escola. Fugiam juntos para matar aula quando não se encontravam antes e nem apareciam na escola.

Foram a vários parques para não serem encontrados. Mas a escola era muito grande e não sentiam falta deles. Museu, pracinhas, banhos de rio(cheios de emoção). E muito mais.

Cinema de mãos dadas, pipoca e algodão-doce. Tudo como manda o figurino, menos a prudência.

As coisas foram se complicando quando os banhos de rio se tornaram frequentes demais. O amor virou preocupação quando as regras não apareceram. Pedro ficou feliz e disse que trabalharia para sustentar o bebê, mas ela se desesperou e retrucou:

_Meus pais me matarão.

_Vamos fugir pra longe e lá vamos viver juntinhos pelo resto da vida. Marcaram o dia e fugiram de verdade, mas não foram muito longe .

continua...

Nilma Rosa Lima
Enviado por Nilma Rosa Lima em 05/09/2014
Reeditado em 09/09/2014
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