Uma noite especial
O Natal se aproxima. Penso em Julia. Grande mulher!
Soube, apesar dos revezes da vida, criar seus dois filhos com maestria.
Separou-se do marido quando Roberto tinha 17 e Ana Laura 3 anos. Não descuidou-se de sua carreira profissional e, de forma extremamente prática, reorganizou sua vida com olhos para o futuro dos filhos.
Encantava-me vê-la andando pelas ruas na companhia dos dois, sempre discreta e com um leve sorriso nos lábios.
Certo dia ligou-me com voz embargada: “Sara, o Roberto irá para o exterior. Apesar de não tê-lo criado prá mim, já começo a sentir um aperto no peito. Como viverei sem o meu filho?
Tentei acalmá-la com argumentos coerentes, embora meu peito tenha ficado apertado também.
Roberto partiu e, apesar dos avanços tecnológicos colocarem-a em contato com ele diariamente, a saudade era constantemente estampada em seus olhos.
Passou o primeiro Natal com Ana Laura em nossa casa. Brindamos à vida, ao trabalho e às nossas famílias, próximas ou distantes. Erguemos nossas taças a Roberto.
Mais um ano se passou sem que Julia “tocasse” o filho.
No próximo Natal, novamente com a certeza da impossibilidade da sua vinda, Julia resolveu decorar sua casa para a data, com ideia fixa de que Ana Laura merecia maior alegria. Convidou amigos e preparou uma ceia especial.
Eu e meu marido estávamos lá quando, como em um passe de mágica, antes da meia noite, surgiu Roberto com seu sorriso de sempre. Resolveu fazer surpresa. O menino estava diferente, mas o sorriso era o mesmo e a saudade ficou escancarada num longo abraço em Julia e Ana Laura.
A ceia foi comovente: quietude, mansidão ... palavras poderiam atrapalhar os corações cheios naquela noite que ficará para sempre.