De olhos fechados
Não era a primeira vez que acontecia. Sempre que chegava ao trabalho, lá estava ela: uma rosa vermelha solitária sobre a mesa. Da primeira vez colocou-a num copo com água e ficou observando para ver se descobria pistas de quem a colocara ali. Mas ninguém desviava o olhar do trabalho para olhá-la. Continuavam sua rotina sem qualquer indicação de ser alguém dali que lhe deixava as flores. E assim foram passando os dias, e sempre, quando chegava de manhã, lá estava ela, a flor solitária e cúmplice do segredo de quem as deixava para ela. Depois de algum tempo, passou a não guardá-las mais. Para não magoar ninguém, passou a guardá-las na bolsa, enquanto aguardava ansiosa que alguém manifestasse ser o autor de tamanha delicadeza. Mas ninguém nunca fez qualquer gesto que pudesse revelar o segredo. Passou a ficar cansada da situação. Questionou com as amigas, que também nunca haviam visto nada que a levasse à conclusão alguma. Naquele dia, chegou cansada e deprimida em sua sala. A rosa, como de costume estava lá. Sem pensar duas vezes, jogou-a no lixo e começou a rotina de atender aos clientes do call-center. No final do expediente, ele veio em silêncio para recolher o lixo. Apanhou o cesto que estava ao lado dela e viu a rosa murcha entre os papéis.
Ela não viu a lágrima que escorria em sua face, pois debaixo daquele uniforme de contínuo, o rapaz de olhar suave e sorriso lindo era totalmente invisível. Nunca mais ela encontrou rosas sobre a mesa.