A Atriz
Posso dizer que levo uma vida tranquila. Estou chegando aos sessenta anos, sou aposentado, faço consultorias para algumas empresas financeiras e dou algumas aulas para cursos de administração. Sou divorciado e, melhor, não tenho a menor ideia de onde se encontra a minha ex-mulher.
O interessante é que a vida estando muito calma, sempre chega uma tempestade para sacudi-la. Desta vez foi uma remexida e tanto. Seu nome: Ana Beatriz, que rima com atriz, que é o que ela é.
Nosso primeiro contato foi durante uma peça de teatro experimental, que diga-se de passagem, não faz o meu gênero. Tinha sido convidado por uma aluna que fazia parte do elenco. Acabei indo, inclusive numa esticada até uma pizzaria. Atores amadores não costumam ter dinheiro para frequentar restaurantes. Estava divertido. Havia um pequeno palco e como ator não pode ver palco resolveram ocupá-lo. Cantaram, declamaram, riram. De repente, a minha tempestade Bia, surge cantando “Anos Dourados”, uma de minhas músicas favoritas. Fiquei extasiado.
Quando a moça voltou para uma das mesas, não resisti. Usei uma tática antiga: escrevi um pequeno poema num guardanapo:
“Sua voz quando ela canta
me lembra um pássaro mas
não um pássaro cantando:
me lembra um pássaro voando”.
Funcionou. Bia veio até minha mesa.
- Você escreveu os versos?
- Não foi o Ferreira Gullar, eu só transcrevi. Ele, com certeza, não vai se importar.
- Qual é o nome do poema?
- Cantada.
Ela ruborizou imediatamente. Eu não sabia que atrizes ruborizavam.
Ficamos juntos conversando, até que Flávia ( minha aluna) veio chamá-la para irem embora. Bia disse que ficaria mais um pouco. Fomos para minha casa e começava um dos mais estranhos casos de amor que já tive conhecimento.
Ela pediu para utilizar um dos quartos de minha casa como camarim. Por que não? A casa tinha muitos cômodos. Ela trouxe um enorme baú cheio de roupas. Como nossos horários eram desencontrados, ela dormia no seu camarim. Quando nos encontrávamos o amor era intenso, em todos os sentidos, apesar da diferença de idade. Ela tinha apenas vinte e três anos.
Bia tinha hábito de escrever e-mails. Na verdade ela disse que gostaria de escrever cartas, mas ninguém mais fazia isto. Certo dia quando estava ao computador recebeu uma ligação para fazer um teste numa companhia de teatro. Saiu apressada e não enviou o e-mail que estava escrevendo. Acabei lendo e somente algum tempo depois, iria entender. Era mais ou menos o seguinte o que estava escrito: ... Flávia, acho que estou apaixonada por este homem. Entretanto, eu não posso assumir sequer uma paixão. Estou aguardando uma proposta de teste num grupo teatral do Rio. Se der certo vou embora e seguir minha vida. Por enquanto, vou ficando e para resolver esta questão e não me envolver ainda mais, decidi tomar algumas providências. Depois te conto. Beijos. Bia. Enviei o e-mail.
Quando a vi novamente estava radiante, achava que fora muitíssimo bem no teste. Só elogios. Começava agora uma fase estranha. Entrou no seu camarim caseiro e voltou representando Maria Antonieta e chamando-me de Louis. Foi uma grande noite.
Os dias foram se passando e toda vez que nos encontrávamos era uma personagem diferente: ora dominadora, ora submissa. Bailarina. Palhaça de circo. Deprimida. Excitada. Muitos personagens.
Comecei a entender, este era o seu jeito de não se comprometer. Múltiplas personalidades confundindo tanto a ela quanto a mim.
Chegou o dia, fora aceita na companhia e mudou-se com seu baú para o Rio de Janeiro. Fiquei só tentando entender o que havia acontecido. Continuei minha vida celibatária.
Raramente assistia televisão, até um telefonema de Flávia:
- Assista ao programa de auditório neste domingo. A Bia vai aparecer. Ela foi chamada para o elenco da nova novela.
O programa foi desenvolvendo um tema: “Amor tem idade"? Os atores foram chamados a opinar. Chegou a vez de Bia:
- “Eu acho que amor realmente não tem idade. As diferenças são resolvidas de diversas formas”
O apresentador perguntou:
- Você já esteve envolvida com homem mais velho?
- Não! Mas acho que seria uma bela experiência, disse ela.
Vadia!
Posso dizer que levo uma vida tranquila. Estou chegando aos sessenta anos, sou aposentado, faço consultorias para algumas empresas financeiras e dou algumas aulas para cursos de administração. Sou divorciado e, melhor, não tenho a menor ideia de onde se encontra a minha ex-mulher.
O interessante é que a vida estando muito calma, sempre chega uma tempestade para sacudi-la. Desta vez foi uma remexida e tanto. Seu nome: Ana Beatriz, que rima com atriz, que é o que ela é.
Nosso primeiro contato foi durante uma peça de teatro experimental, que diga-se de passagem, não faz o meu gênero. Tinha sido convidado por uma aluna que fazia parte do elenco. Acabei indo, inclusive numa esticada até uma pizzaria. Atores amadores não costumam ter dinheiro para frequentar restaurantes. Estava divertido. Havia um pequeno palco e como ator não pode ver palco resolveram ocupá-lo. Cantaram, declamaram, riram. De repente, a minha tempestade Bia, surge cantando “Anos Dourados”, uma de minhas músicas favoritas. Fiquei extasiado.
Quando a moça voltou para uma das mesas, não resisti. Usei uma tática antiga: escrevi um pequeno poema num guardanapo:
“Sua voz quando ela canta
me lembra um pássaro mas
não um pássaro cantando:
me lembra um pássaro voando”.
Funcionou. Bia veio até minha mesa.
- Você escreveu os versos?
- Não foi o Ferreira Gullar, eu só transcrevi. Ele, com certeza, não vai se importar.
- Qual é o nome do poema?
- Cantada.
Ela ruborizou imediatamente. Eu não sabia que atrizes ruborizavam.
Ficamos juntos conversando, até que Flávia ( minha aluna) veio chamá-la para irem embora. Bia disse que ficaria mais um pouco. Fomos para minha casa e começava um dos mais estranhos casos de amor que já tive conhecimento.
Ela pediu para utilizar um dos quartos de minha casa como camarim. Por que não? A casa tinha muitos cômodos. Ela trouxe um enorme baú cheio de roupas. Como nossos horários eram desencontrados, ela dormia no seu camarim. Quando nos encontrávamos o amor era intenso, em todos os sentidos, apesar da diferença de idade. Ela tinha apenas vinte e três anos.
Bia tinha hábito de escrever e-mails. Na verdade ela disse que gostaria de escrever cartas, mas ninguém mais fazia isto. Certo dia quando estava ao computador recebeu uma ligação para fazer um teste numa companhia de teatro. Saiu apressada e não enviou o e-mail que estava escrevendo. Acabei lendo e somente algum tempo depois, iria entender. Era mais ou menos o seguinte o que estava escrito: ... Flávia, acho que estou apaixonada por este homem. Entretanto, eu não posso assumir sequer uma paixão. Estou aguardando uma proposta de teste num grupo teatral do Rio. Se der certo vou embora e seguir minha vida. Por enquanto, vou ficando e para resolver esta questão e não me envolver ainda mais, decidi tomar algumas providências. Depois te conto. Beijos. Bia. Enviei o e-mail.
Quando a vi novamente estava radiante, achava que fora muitíssimo bem no teste. Só elogios. Começava agora uma fase estranha. Entrou no seu camarim caseiro e voltou representando Maria Antonieta e chamando-me de Louis. Foi uma grande noite.
Os dias foram se passando e toda vez que nos encontrávamos era uma personagem diferente: ora dominadora, ora submissa. Bailarina. Palhaça de circo. Deprimida. Excitada. Muitos personagens.
Comecei a entender, este era o seu jeito de não se comprometer. Múltiplas personalidades confundindo tanto a ela quanto a mim.
Chegou o dia, fora aceita na companhia e mudou-se com seu baú para o Rio de Janeiro. Fiquei só tentando entender o que havia acontecido. Continuei minha vida celibatária.
Raramente assistia televisão, até um telefonema de Flávia:
- Assista ao programa de auditório neste domingo. A Bia vai aparecer. Ela foi chamada para o elenco da nova novela.
O programa foi desenvolvendo um tema: “Amor tem idade"? Os atores foram chamados a opinar. Chegou a vez de Bia:
- “Eu acho que amor realmente não tem idade. As diferenças são resolvidas de diversas formas”
O apresentador perguntou:
- Você já esteve envolvida com homem mais velho?
- Não! Mas acho que seria uma bela experiência, disse ela.
Vadia!