BODAS DE PRATA

A música tocava, de vez em quando o anfitrião mudava de cd, tudo numa onda anos 80, a época dourada da maioria dos convidados. Luisa conversava animadamente com uma das amigas presentes até que tocaram à porta e o marido, Daniel, foi abrir, dando passagem a Lourenço. Assim que o viu ela mudou de cor, ficou pálida, nervosa.

Daniel acompanhou o recém-chegado até chegarem junto dela.

- Boa noite, Luisa.

- Boa noite, Lourenço - e olharam-se algum tempo.

Daniel pediu licença e deslocou-se até junto de outros convidados.

- Parabéns pelo evento - disse Lourenço. Tossiu, olhando-a de soslaio. Luisa estava congestionada.

- Porque vieste?

- Queria ver-te de novo, esta é uma oportunidade única - fez uma pausa e continuou: - Vou viajar e não sei quando ou mesmo se volto…

Ela olhou-o ansiosa.

- Vais-te embora? De vez?

Pareceu a Lourenço que a pergunta era quase uma prece, esperando uma negativa, que ele recuasse.

- Sim, vou embora, nada me prende aqui. Nem família nem amigos… Só desilusão.

- Espera - ela pousou-lhe a mão no antebraço.

- Queres uma bebida?

- Sim, pode ser um whisky, se fazes o favor.

Ele deslocou-se até uma mesa onde estavam várias garrafas de bebidas alcoólicas, bem como copos de diversos feitios. Tirou do balde dois cubos de gelo para cada um dos copos e depois regressou para junto dele. Estendeu-lhe a bebida.

- Obrigado. À tua saúde - e tocou com o seu copo no dele.

- À tua, também…

Beberam um trago, olhando-se sobre o rebordo dos copos. Após uma pausa, o silêncio foi ficando demasiado pesado para ambos e ele finalmente falou:

- Sabes uma coisa? Há muitos anos, quando andávamos a estudar, senti um fraquinho por ti, depois esse fraquinho cresceu, transformou-se em amor mas nunca tive coragem de o declarar. Entretanto começaste a namorar com o Daniel e eu afastei-me. Mas nunca deixei de te amar. - Olhou para o chão, incapaz de suportar o doce olhar dela.

Luisa susteve a respiração e os seus olhos humedeceram.

- Porque não me falaste? Sempre te achei distante, nunca manifestaste interesse por mim. Bem, para além da amizade…

- Pois na verdade não era só amizade. Sonhei contigo noite e dia, meses a fio. Depois afastámo-nos… Mas nunca saiste do meu coração.

- Pobre querido…

Ele tossiu um pouco, disfarçando a emoção.

- Agora nada mais tenho a fazer aqui. Aceitei um cargo em Barcelona, vou mudar de ares, pode ser que me faça bem.

Luisa prendeu-lhe a mão nas suas. - Não vás, por favor… - e olhava-o, suplicante.

- De que me serve ficar aqui? Além disso, o Daniel é uma excelente pessoa e eu não quero estragar o vosso casamento…

Entretanto separaram-se um pouco porque Daniel aproximou-se deles, sorridente.

- Então queres roubar-me a mulher?

- Não, por amor de Deus, a Luisa está em boas mãos. - Olhou para o relógio. - Ah, malditas horas, que mandam em mim. Tenho mesmo de ir, desculpem-me. Passei aqui apenas para vos felicitar.

Debruçou-se para Luisa e deu-lhe um beijo na face. Ela estremeceu como se os lábios de Lourenço a abrasassem.

Ele apertou a mão a Daniel e sussurrou: - Adeus.

- Adeus, Lourenço. - Luisa mordeu os lábios para dominar a emoção.

- Adeus Lourenço - disse Daniel, amigavelmente.

Lourenço acenou em jeito de despedida para alguns dos presentes seus conhecidos e dirigindo-se para a porta, olhou uma derradeira vez para ela e saiu.

Luisa abafou um soluço e correu para a casa de banho perante o olhar surpreendido de Daniel.

COMUNICO QUE POR MOTIVOS DE VIAGEM ESTAREI AFASTADO DO RECANTO DURANTE CERCA DE UMA SEMANA.

DESDE JÁ AGRADEÇO A VOSSA AMIZADE E SEMPRE GENTIS COMENTÁRIOS,QUE RETRIBUIREI NA MEDIDA DO POSSÍVEL LOGO QUE REGRESSE.

ABRAÇO SENTIDO E CARINHOSO.