De nós, laços

Era um dia de primavera. Mais precisamente, 25 de setembro.

A escolha da data tinha que ser algo especial, como tudo aquilo, era uma conquista mais pra ela do que pra ele. Vencera seus medos, receios de um futuro que entendia não mais fazer parte do mundo que vivia.

O lugar era simplesmente, um encanto. Uma chácara cheia de plantas lindas e flores coloridas, uma escolha feita em um inverno, onde a natureza tão sabia floresceu à sua época e não na dos homens.

Logo na entrada, uma coleção de árvores cujas as flores, nunca procurou o nome, mas seu tom branco arroxeado bastava para que tivesse uma entrada típica de jardins europeus, porem com as nossas árvores tropicais. Mesas e arranjos despojados cada qual no seu devido lugar. Milimetricamente arrumados. Simples, elegante... estonteante. Uma toalha de renda branca foi posta numa enorme mesa tendo apenas um livro, mais flores e uma pequena cesta.

Perdera a conta de quanto havia caminhado para chegar até ali. Um risinho no canto dos lábios, denota minha satisfação. Fora bem valente.

Mais uma passada de olho e tudo ok. Não fazia nada com pressa. Em cada passo um filme, etapas vividas até ali regadas a tudo, tristeza, alegria excessiva, faltas, erros, enfim uma vida normal, mas com lacunas até então não preenchidas.

Como sempre tinha sido, lembrar de uma música era normal "você não sabe o quanto eu caminhei, para chegar até aqui".

Sempre me envergonhei de pedir a vida que me desse alguém, eu achava que não era certo, ela que tinha que me trazer se eu fosse merecedora. Nota mental: pedir com culpa, comer com culpa, nunca mais. Tinha que me permitir.

Tantas escolhas erradas que uma hora a certa teria que aparecer. Completo, nas ideias, no sorriso, no carinho, na paciência e sabedoria de me fazer enxergar o obvio. Merecíamos isso.

Ainda colocando os brincos cuidadosamente, recordo seu primeiro sorriso ameno, sincero e sorrio junto. Estou pronta!

Caminho calmamente pelo corredor de arvores, cujas flores sorriam em pétalas saudando a minha passagem. Tremor! Seria tudo apenas um sonho? Pisco os olhos num instinto, e ao abri-los um par de olhos de jabuticaba me olhava confiante. Arrisco a olhar em volta e dezenas de outros olhos nos guardavam e resguardavam de tudo.

Entre um passo e outro, mentalmente faço um check list de tudo novamente, acho que como forma de verificar se tudo realmente estava acontecendo, até que fiquei em frente a ele.

Quando ele começa a falar, calmamente retiro um fio de cabelo de seu rosto, aparentando uma calma que só eu sabia o quanto havia treinado, enquanto ouvia calmamente seus votos, sorrio sem jeito algumas vezes.

Logo seria a vez dela...

Olhou fixamente ,calma e graciosamente, disse tudo que havia planejado, sem gaguejar, usando as vezes piadinhas normais de fuga, tirando alguns sorrisos das testemunhas e por fim... ao colocar no dedo dele o elo físico que os unia, só sussurra "desfizeram-se os nós, mas os laços, ah esses permanecerão".

Nenhuma palavra mais foi proferida, apenas as cores, aromas e sensações ficaram guardadas na memória, pois se acordasse de um sonho, o quadro que pintara na mente seria a mais linda obra de arte de todos os tempos.

Desatam-se os nós... Fortalecem-se os laços.

Roberta Dentello
Enviado por Roberta Dentello em 06/08/2014
Reeditado em 08/08/2014
Código do texto: T4912679
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