Não me acorde (capítulo 4)

Apesar de ter pensado em ir ao psicólogo, Viktor desistiu da ideia, achou que estaria fazendo muita tempestade em copo d'água. Ora, era só um sonho.

A manhã estava linda, Viktor não lembrava de ter sonhado com a moça nessa noite.

— Ufa! Nunca tive uma noite de sono tão boa. — falava ele com um pequeno sorriso de alívio.

Viktor estava tão feliz que decidiu sair de casa para comer algo. Ele foi direto ao Pop Pizzas, onde comia toda semana quando era criança.

— Pop Pizzas... — falava com um tom de nostalgia — Espero que o lanche daqui ainda seja bom.

Ao entrar, logo viu que as cadeiras estavam rasgadas, as paredes pichadas, havia bebida no chão e a única pessoa que se encontrava lá era um senhora com aspecto desleixado, com um cigarro numa mão e um copo de bebida noutra.

— Nós já fechamos. — resmungava a senhora, encostada no balcão — Não viu a placa de "fechado" na porta?

— Bom... na verdade, não. — falou Viktor, de uma forma lenta.

— Ah! Droga! A plaquinha caiu de novo.

O nome da senhora era Meladie, e sua voz mais parecia com voz de uma bruxa impaciente.

— Perdão, mas... o que aconteceu com este lugar? Digo, era tudo tão lindo, claro, cheio de pessoas, e hoje é escuro e fede a rato morto.

— Olha, menino, eu poderia até me ofender com esse seu comentário, porém já não ligo mais.

Meladie senta numa cadeira rasgada, ao seu lado.

— As coisas pararam de andar, o dinheiro parou de chegar e hoje só aparecem alguns bêbados do bairro pra tomar uma pinga. Tudo se arruinou e...

PUFT!

Enquanto Meladie falava, um ovo cai no chão, bem na frente de Viktor.

— Ah! Tem alguns ovo podres no sótão, eles caem aqui por conta dos buracos no teto.

Enquanto Meladie falava, Viktor olhava fixo para o ovo no chão, enquanto lembrava do sonho que teve.

— Bom... é... bom... Desculpe, senhora, mas tenho que ir...

— Já vai? Tudo bem, volte quando quiser. — falava Meladie enquanto dava uma última tragada no cigarro.

Viktor saía da loja coçando a cabeça...

— Violeta, Vindel, Vanda... Todos os nomes começam com V.

Foi aí que Viktor começou a mudar de ideia; ao invés de fugir dos misteriosos sonhos, decidiu correr atrás deles.

Chegando em casa...

— Ainda são nove horas, vou tentar dormir, tentar sonhar, e tentar descobrir quem é a "Senhorita V".

Foi uma mudança drástica, mas uma onda de curiosidades exóticas atacava a mente de Viktor, ele não tinha mais receio de nada, só queria descobrir quem era a tal moça.

Viktor deitou na cama, porém não conseguia dormir, ele pensava tanto na moça que não conseguia adormecer.

— Aaaarg! Quando eu não quero sonhar, eu sonho! Mas quando quero sonhar, não consigo dormir!

O tempo foi passando: 10, 11, 12 horas, e nada.

— Desisto. Vou almoçar que — pra variar — estou com uma baita fome.

Após fazer seu almoço (frango assado e muito macarrão), Viktor sentou na cadeira e começou a comer.

"Se eu comer muito, posso ficar com sono", pensava enquanto mastigava.

Após terminar de comer, Viktor sentiu uma imensa alegria quando...

— Isso! Está chegando o sono! Sinto meus olhos quererem fechar!

Imediatamente, Viktor foi direto pra cama, deitou, e fechou os olhos. O sono já estava vindo, os pensamentos esdrúxulos já estavam chegando... Viktor estava cochilando...

Ding! Dong!

— Não importa quem for... eu mato.

Viktor foi até a porta, já muito estressado, e abriu a porta.

— Boa tarde, senhor. O senhor estaria interessado em comprar algumas revistas eróticas?

— ... (leves bufadas)... Não, senhor, não estaria.

— Mas essa semana está com a promoção de...

— Senhor, eu realmente não estou interessado.

— Calma, rapaz, deixa eu te falar as novidades, essa seman...

— Não, rapaz, eu não deixo você falar as novidades. Eu realmente não estou nem um pouco afim de comprar revistas, muito menos eróticas.

— Mas talvez o senhor mude de ideia quando...

TUM!

Viktor fecha a porta.

— Que insistente.

Após Viktor deitar na cama novamente, seus olhos fecham mais rápido que antes, e seu cochilo vem chegando outra vez...

— TCHUÍÍÍÍM! TCHUÍÍÍM!

Era seu celular.

— Ah, mas só pode ser brincadeira... — fala ele enquanto destrava o celular para atender a chamada.

— Alô? Filho? Filho, você botou o feijão na geladeira?

— Botei, mãe.

— E você não vai trabalhar hoje, não?

— Mãe, hoje é feriado... — falava com um tom e uma cara de tédio e impaciência.

— Ah! Sim... Não esqueça de jantar, tá? Mamãe vai chegar mais tarde hoje.

— Mãe, tá, pode deixar, não se preocupe, eu já fiz tudo que deveria fazer.

— Clotilde apareceu por aí? Ela queria emprestado uns perfu...

— Mãe, — interrompia — se ela aparecer, eu saberei, e vou entregar os perfumes, ok? Agora eu preciso dormir que estou muito cansado.

— Nossa, você acordou de mal humor hoje, foi?

— Mãe! Por favor! Eu preciso muito dormir!

— Nossa, tá bom... Depois mamãe liga de novo, beijos, meu filho, até de noitinha.

— Beijos, mãe.

Clap!

— Ligar você até pode, mas com meu celular no silencioso. — fala ele já com a chamada desligada.

— Ah! Finalmente poderei dormir...

E finalmente ele consegue dormir... E finalmente ele tem o que queria...

— Uhuuuuu! É hoje, galera. Vocês estão preparados para dar um show?

— Siiiim!!! — gritava Tobias.

Eles estavam num camarim que ficava atrás do palco.

— Vamos mostrar a essas pessoas o que é música! — fala Viktor, com um ar de felicidade discrepante.

Alguns minutos antes do show começar, Viktor saiu do camarim pra tomar um pouco d'água, e foi andando pelos corredores, detrás do palco.

— O que aquela moça está fazendo aqui? Ela não pode vim pras bandas do camarim...

— Ei, moça! Você não po...

Viktor parou por um segundo, arregalou os olhos e inúmeras coisas invadiam sua cabeça nesse momento.

Era isso, Viktor finalmente havia percebido...

— Eu... eu sei... eu sei o que está acontecendo... eu... eu sei!

Viktor continuava falando sozinho, só que com com olhos mais arregalados ainda.

— ...

Viktor não conseguia falar nada, estava boquiaberto, e só conseguia pensar uma coisa...

"É ela... a menina dos sonhos. E eu estou sonhando!"