Não me acorde (capítulo 3)

Viktor trabalhava em uma média empresa, em um prédio enorme. Trabalhava com contabilizações, finanças, administrações internas etc.

Ele tinha um grande e confiável amigo chamado Tobias, no qual contava tudo.

— Como assim? Era a mesma do primeiro sonho?

— Sim, Tobias, quantas vezes eu vou ter que repetir?

— Ah... sei...

— Mas, então, eu não consigo parar de pensar nessa Violeta, Vindel, sei lá. É como se fosse tudo tão efêmero mas tão estranho e interessante.

— Cara, foi só um sonho. Nunca teve sonhos surreais quando era criança?

— Claro que tive. Inclusive, o de ontem foi bem infantil. Eu estava num castelo, tinha um vilão, crianças que eu tinha que salvar etc. — falava ele com uma cara séria e decepcionada, como de quem tem 20 anos e ainda sonha com coisas de criança.

— Então. Foi só mais um sonho estranho.

— É... deve ter sido mesmo.

Depois de horas de trabalho, Viktor chegou em casa, cansado, muito cansado.

— Ah, mas não vai nem jantar, não?

— Mãe, eu tô cansado, muito cansado.

— Ah, mas eu fiz essa comida toda foi pra você jantar, desça e venha jantar que seu pai num trabalha todo dia pra...

Puft!

Viktor fecha a porta, tira os sapatos com os próprios pés e deita na cama.

— Ai, ai, mãe, eu amo a senhora, mas estou muito cansado... — fala baixinho, mesmo que ela não esteja escutando, e continue resmungando aos gritos, lá de baixo.

Viktor estava tão cansado que adormeceu nos primeiros vinte segundos que deitou e fechou os olhos...

— Corre, cara! Tá caindo ovo pra todo lado!

— Ovo? Onde nós estamos, Tobias? Mas que ov...

PUFT!

— Vem, vem! Viktor! Veeeeem! Depois você limpa a cabeça. Aqui tem uma cabana...

— O que tá acontecendo, cara?

— É o apocalipse oval, cara, tá caindo ovo do céu, todos os tipos de ovo.

— A sorte de vocês é que ainda não caiu nenhum ovo de avestruz. — falava uma moça, encostada numa coluna da cabana, com olhos sonolentos e determinados, com uma fina vareta na boca.

"Essa risadinha que ela deu... me foi bem familiar...", pensou Viktor.

— Ovo de avestruz? Quem é você? E por que não está tão desesperada também? — exclamava Tobias.

— Vivendo e aprendendo, amigo, sei muito bem me defender dos ovos, isso acontece todo ano na minha cidade.

— Um apocalipse oval? Todos os anos? Na sua cidade? Onde você mora? Qual seu nome? — perguntava Viktor.

— Sim. Sim. Sim. Em Pokshob, uma cidadezinha no sul do Egito. Meu nome é Vanda. — respondia ela com uma pequena pausa entre cada resposta.

— Pokshob? Isso nem sequer existe. Você deve tá inventando tudo isso. — resmungava Viktor.

— Talvez, mas isso não importa agora. Adeus, ou até em breve.

Vanda virava para trás, abaixava o pequeno chapéu que usava, e saía, correndo, correndo rápido, como uma atleta profissional.

— Agora me diga, Tobias, o que droga era essa mulher?

— Não sei, mas bem que ela... OVO DE AVESTRUZ!

BUM! As luzes se apagam, não há mais nada, nada mais tem cheiro, nada mais tem som, nada mais tem cor...

Viktor acorda, ainda zonzo, recordando-se do sonho.

— Hahahahahaha, apocalipse de ovo? Essa foi boa. Hahaha... Que fome.

Viktor sempre acordava com muita fome. Muita fome. Não sei de onde vinha, mas era muita fome.

— Espera aí... Vanda? Aaaaaaaaaaaaaaaaah, não! Não, não, não, não! Ela era a mesma Vindel, a mesma Violeta. Que porcaria de sonho! Agora está decidido, vou a um psicólogo!