Na minha rua

Queria que você morasse na minha rua...

Te veria passar pela manhã, apressado e atrasado para o trabalho. Talvez você passasse ainda ajeitando a gravata enquanto troca a marcha do carro. Talvez passasse andando, apressado com gel no cabelo, rumo ao ponto de ônibus. Não importa.

Nas passadelas que eu desse em frente ao seu portão eu saberia se gosta de comigo ninguém pode, samambaias ou brincos de princesa decorando sua garagem.

Daria um petisco ao seu cãozinho pra garantir a amizade do peludo, se numa noite romântica precisasse entrar de supetão direto pro seu quarto.

Eu cuidaria de saber se suas roupas no varal são de tons pasteis ou de cores quentes, caso eu resolvesse te dar uma camisa no dia de aniversário do nosso namoro.

Sempre ouviria as músicas que você deixa em alto e bom som enquanto cuida da faxina e poderia decorar todas as letras de Legião, se um dia você quisesse cantar junto.

Me permitiria sentir seu perfume quando você passasse próximo a mim. E tentar descobrir se o seu aroma é amadeirado, cítrico ou só encharcado do cheiro de você mesmo.

Te ver voltando pra casa em dias que você mantém a postura ereta, confiante, feliz e assertiva...quem sabe pudéssemos comemorar com um bom vinho e filme de terror.

Ou querer dispensar massagem relaxante regada a beijos nas costas nos dias em que viesse cabisbaixo.

Eu ouviria sua voz sendo educado e dizendo "Bom dia", " Boa tarde" ou "Boa noite". Mesmo sonhando um dia poder ouví-lo dizer meigamente nos meus ouvidos "Meu amor...".

Mas nada disso é possível estando você a quilômetros de distância de mim. Só posso imaginar qual seria a vibração da sua voz cercando meu pescoço enquanto me beija.

Como seria olhar o brilho dos seus olhos de perto, beijar suas mãos e apertar suas bochechas enquanto você ri de alguma piada sem graça que contei.

Hoje só posso olhar seu retrato estático e imaginar como é sua vida no detalhe. No cheiro, no gosto, no toque, no calor da sua presença.

E eu que só queria que você morasse na minha rua.