A janela e o tempo
Observando o tempo passar como tantos outros observam, vejo pela minha janela o efeito desse mestre silencioso, que química é esta? que toma conta dos sentidos em meio a sonhos prematuros,noites e dias que não são meus.
Hoje pela manhã o vento me pareceu um pouco mais frio, recebi uma visita um tanto inesperada, era a senhora solidão, ela me sorriu tão docemente que fez o tempo o qual observava parar, as imagens que via através da janela não conhecia mais, tudo que eu sabia foi esquecido, parecia imagens de um filme antigo, de repente, um pensamento tomou conta de mim, que a senhora solidão tinha um mestre, o qual era o tempo, e percebi que ele poderia ser o meu mestre também, e as forças que me foram arrancadas pela senhora solidão e seu sorriso doce, eu me lancei à procura de um cálice inebriante de desejos que eu procurava sem saber.
Nesta queda vertiginosa em um abismo de sentimentos confusos, encontrei outro corpo que caía junto ao meu, algo de familiar nos foi perceptível, ambos estávamos caindo e com os braços abertos eu me lancei ao corpo e o fiz de abrigo.
O interessante é que pela primeira vez em meio a queda, eu sorri e me senti em paz, o mestre tempo, quem diria fez tudo para que a hora certa chegasse, agora tudo estava tendo sentindo, a senhora solidão com seu sorriso doce, já não era minha inimiga, ela não era diferente do mestre tempo, eles eram um só, instrumentos necessários da atração dos sentidos e desejos.
Quem é o meu amado que agora me abraça? qual é o seu rosto? qual é o seu nome? porque é tão familiar? Somos o éter, somos o fogo, somos agora o equilíbrio, somos carne, saliva, suor, respiração, somos dois, somos um.
Como os ponteiros dos minutos e das horas que se encontram alinhados na perfeição de um relógio, descubro através da minha janela que o tempo foi e é, o mestre para o fim da minha inimizade com a senhora solidão.