Uma mensagem de Deus...

Uma mensagem de Deus através da morte:

Dizia-se na pequena vila que era uma moça de cabelos lindos e rosto ruborizado, eternizado por uma espécie de gratidão à vida e belos olhos amendoados que brilhavam às noites mais que a lua seminua num céu estrelado. O coração, tão puro, recebera todos os atributos que vinham sem máscaras. Ou, se já em terna canção de sonhos, pudera Deus tê-la concebido sem nenhum artífice tamanho seus nobres desejos. Desde menina, sentada à relva molhada e fresca, pedia às estrelas-cadentes um Amor que pudesse ser maior que todos os medos que nela habitavam. E por mais que houvessem sonhos e medos, o paradoxo d’alma, o sorriso não continha a lembrança e a saudade daquele que ainda viria, não se saberia quando ou como. Nas noites de lua crescentes, a prece sucumbia o sorriso e faziam baixar lágrimas:

- Oh, Deus, nobre e justo. Por menor que eu seja, por ínfima criatura que habite essa alma dura, impura e cinzenta, não deixa-me só! Traga-me, num momento em que melhor lhe for, aquele que acalentará meus sonhos e me tornará mais próxima a Ti, Senhor. Dá-me um Amor maior que o mundo, mais precioso que todas as vestimentas dos melhores reis já viventes e mais valioso que o ouro puro. Dai sementes de fé ao meu coração tão pobre para que ele se enriqueça de sua misericórdia e benevolência. Traga-me ao meu seio de mulher, quando assim fores de Teu agrado, a família que acalentei uma vida inteira e à qual não deixarei de ter em sonhos. E me abraça forte, oh Deus! Tenho muito medo de ser sozinha num universo tão grande, num espaço de tempo tão findo! Que os anos da minha esperança possam esperar enquanto tenho forças para suportar quão vazio meu coração se faz nesse momento. Preencha-o, Meu Pai! Dá-me a estrela mais bela e mais ardente de Tuas promessas para que Nela meu corpo possa repousar em terra e rios e habitar pela eternidade da vida além dessa.

Todos os dias, ao vê-la chorar sentada ao gramado, o pai, distante da janela, olhava para o mesmo céu e se perguntava o porquê de tanta solidão. A mãe não tinha tempo de observar os almejos da filha pois seu trabalho não deixava-a tempo sequer.

Por anos a fio, crescendo sob a mesma lua de orações e preces, Anna continuava. Nas manhãs, com sorrisos e olhos de esperança ingrata, às noites as preces com as quais tentava resgatar seus mais tenros sonhos. Vertiam tantas lágrimas que em determinada noite, ao limpar a última gota, eis que ao seu lado sentara uma mulher vestida de negro e prateada como a mais linda estrela. Anna indagou-a: ‘Quem sois?’

Se entreolharam alguns segundos, os quais, após a dama negra, respondeu:

- Sou o anjo da morte, minha querida. Deus deu-me a missão de seguir-te por onde fores a partir de agora.

Anna cresceu ainda mais os olhos amendoados e espantou-se, mesmo em silêncio. A morte vestida de brilho e sedas, continuou:

- Deus me envia àqueles que muito almejam sonhos impossíveis ou que são incompreensíveis à alma humana.

Anna enxugou a última lágrima e tomou uma postura de voz nunca antes ousada, olhou a morte de frente:

- Não foste tu por quem chamei a vida inteira. Clamei ao Senhor, Meu Pai e Meu Deus por um Amor verdadeiro e puro, não clamei a ti, não clamei por ti. Venha quando chegar a minha hora, não é chegada ainda, pois estou à espera de um sonho muito valioso.

A morte sorriu e prosseguiu:

- Não vim para te levar de volta ao Nosso Pai e Senhor, Anna! Eu vim para que saibas que nada é sem fé e que a esperança renasce a cada segundo em corações preciosos. Se Deus, Senhor, tivesse enviado Teu anjo mais nobre, o qual, guardião das boas novas, todos esperam, essa mensagem seria menor aos lindos olhos seus. Ele me enviou exatamente para dizer que o Amor que tanto insistes em pedir torna-se, a cada dia, não por destino, mas por tua espera sólida e fortificada, tão grande quando o sopro efêmero da vida terrena e que, eu, a morte, estou incumbida de dizer: ‘Teu Amor, que não mais tardará, será maior que a mim, será maior que a própria vida e permanecerá além de todas as coisas que perecem. A semente que torna-se videira, o pó que reconstrói muros e homens, corações que batem avidamente, mas um dia se calam... O sol que se põe, a lua que se esconde e eu, a morte, que hei de levar a todas essas coisas...

Sorri, preciosa Anna, pois nosso Senhor mandou-me dizer que seu Amor virá e será além de mim mesma e essa é a maior representação de que sua força pode vencer o mundo e a efemeridade dos medos. Nossos maiores sonhos podem vencer até mesmo a morte. E fique tranquila, porque um dia, quando nos reencontrarmos num futuro incerto e impreciso não hei de levar-te em lágrimas mas em abundantes e lindos sorrisos, pois Deus te dará felicidade e glórias, até seu último dia nesse mundo.

Amém!

Anna Beatriz Figueiredo
Enviado por Anna Beatriz Figueiredo em 09/07/2014
Código do texto: T4876135
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.