Ecos de Lacuna - À espera do pai
Os lampiões à querosene eram acesos lá pelas 18:00hs enquanto que o dia deitava-se em seu leito já adormecido, dando lugar a noite de breus, luas, estrelas e mosquitos.
Ainda deitada no colo de sua mãe, Marcele deliciava-se com a conversa da matrona. O diálogo sempre em torno de uma áurea mágica em que duendes e seres muito mais misteriosos frequentavam aquele quintal, portanto, deveriam ficar na sala com o Dick, o cão protetor e bonachão, que, silenciosamente com as pestanas já relaxadas, entre uma coçada de orelha e outra de nariz, ia esticando as suas grandes patas.
Lá fora ouvia-se o zunir de um vento entubado. Parecia um bicho querendo escapar de sua jaula. Uma fera acuada. Talvez um Saci rodopiando e espalhando a terra. Nesse momento, Marcele olhava para a sua mãe e entendia o porquê de tantos lampiões espalhados pelos cômodos.
O seu avô Monte, ressoava e roncava no outro quarto que ficava no final do corredor, ele e nada eram a mesmíssima coisa. Como pode um homem forte daquele não nos proteger de nada? Sujeitinho imprestável, pensava Marcele. Algum bicho poderia nos atacar a qualquer momento, mesmo com as portas trancadas, podiam invadir o teto pelas claraboias e pelas vidraças chorosas do sereno.
Os pensamentos voavam... a sua mãe parecia uma matraca e em dado momento, isso também a angustiava. Tinha vontade de mandar a mãe calar a boca. - Cala a boca! (só em pensamento).
E nesse momento escutava lá do portão de entrada, perto da ponte de cerquinha branca, o assovio de seu pai.
Aquele era o momento tão esperado por ela. Saía num ímpeto do colo de sua mãe tagarela, junto com o seu Dick, destrancava a porta da frente e corria ligeiro sem medo de seres estranhos que porventura adentravam o seu quintal.