COISAS DO CORAÇÃO...
Entrei no elevador e apertei o botão do quinto andar. Mas, assim que pus o pé no elevador vazio, um homem chegou com uma pasta preta nas mãos. Vinha ofegante, rosto banhado de suor. Ficou parado ao meu lado. Devia estar atrasado para algum compromisso – pensei.
Apertei o botão do quinto andar. Ele, o sétimo.
De repente um barulho surdo foi ouvido e o elevador parou! Sem qualquer aviso prévio simplesmente estacou, recusando-se a sair do segundo andar!
Os técnicos da manutenção gritaram lá fora para que ficássemos calmos, garantindo que tudo voltaria ao normal em alguns minutos.
Senti um pouco de medo. Aquele elevador era mesmo um problema! Decidi relaxar e manter a calma.
Quase sem perceber, comecei a analisar o desconhecido ao meu lado – sob o meu ponto de vista inicial, é claro. Errada atitude. Jamais devemos cometer a leviandade de julgar alguém baseando-nos na primeira impressão que ela nos causa. Mas, eu cometi.
Olhei para a mão esquerda do rapaz: era casado. Devia ser um daqueles tipos chatos – pensei, olhando-o de rabo de olho. Um daqueles maridos insuportáveis que gostam de tudo em seus devidos lugares! Que quando entram em casa querem encontrar os chinelos no lugar. Que reclamam se não encontram o controle da TV, ou se o café não está bem quente. Desses que gostam das roupas muito bem passadas. Que não gostam de nada fora do lugar e que têm hora marcada para tudo: para dormir e para acordar. No banho, minutos contados. Jamais se atrasa.
Parei por alguns instantes de “analisar” o homem e olhei para o número vermelho acima da porta do elevador: continuava parado! E não se ouvia mais nenhuma voz do lado de fora.
Voltei a imaginar: e no sexo? Devia ser um tédio total! A coitada da esposa devia ficar sempre a “ver navios”, pois ele precisava “terminar logo” porque não podia passar do seu horário de dormir! “Preciso acordar cedo amanhã”! – diria.
A esposa, carente, devia ficar desconsolada. Queria sugerir que fizessem algo novo, experimentassem uma nova posição... ou que fosse menos rápido, dando-lhe a chance de ter prazer também! Que a beijasse longamente na boca... que prolongasse um pouco as preliminares! Mas... ele sempre virava pro canto e dormia rápido! A infeliz devia viver com cara de mal-amada, insatisfeita com a performance sexual do esposo!
Já no trabalho devia ser o melhor da firma. Elogiado pelo chefe e invejado pelos colegas, que queriam ser como ele... – prosseguia eu em meu descabido devaneio.
De repente algo fez com que eu despertasse: ele pôs a pasta no chão e desabotoou a camisa, deixando à mostra um tórax forte, moreno e cabeludo. Realmente o calor ali dentro estava de matar! – constatei.
Fiquei um tanto confusa. Não esperava por aquilo! Olhei de novo, sem disfarçar. Percebi que seus cabelos agora estavam despenteados e passava a mão por eles, impaciente. Então, tirou a camisa de dentro da calça. Pareceu finalmente notar que havia alguém ao lado dele. Olhou para mim. Mas não um olhar qualquer. Um olhar daqueles que parece despir a mulher da cabeça aos pés. Um olhar eletrizante, que me deixou de pernas bambas e o sangue a correr mais rápido nas veias.
Seria o calor? – pensei, sem ousar admitir que o olhar do suposto “machista insuportável” estivesse mexendo tanto comigo.
Nenhuma palavra foi dita. Mas, sem percebermos, nos aproximamos um do outro até ficarmos a uma distância no mínimo... perigosa. Mais perto... os pelos dos braços roçando agora... o olhar dele... ah, que olhar arrasador! Como não percebeu antes o quanto era bonito, sua imbecil? – perguntava-me, surpresa.
Silêncio total. Nossas respirações se aceleraram. De repente ele me agarrou pela cintura e me deu um beijo daqueles... daqueles em que a língua do outro parece entrar todinha dentro da boca da gente... nossa! Pronto! Não dava mais pra parar! Perdemos a noção do tempo, aos beijos, nos amando como dois loucos dentro do elevador! Eu nem se lembrava mais que o imaginara um chato, insuportável, machista, etc! Mas... e se fosse? A forma com que ele fazia amor compensava tudo!
Algum tempo se passou. Quanto? Impossível calcular! Nem por um segundo desgrudamos um do outro! Até que novamente ouvimos vozes lá fora.
Rapidamente nos afastamos. Ele abotoou a camisa, ajeitando-a para dentro da calça, ofegante. Eu me recompus da melhor maneira que pude, tomada pelo súbito pavor de ser flagrada no elevador agarrada a um desconhecido!
A porta foi aberta. Os técnicos sorriram e nos perguntaram se estavam bem. Balançamos a cabeça dizendo sim.
A porta foi fechada e a “viagem” prosseguiu. Só que dessa vez tínhamos como companhia os dois técnicos da manutenção – a fim de garantir que nenhuma pane aconteceria até que saíssemos dali.
No quinto andar o danado parou, obediente. Caminhei para a porta do meu apartamento, sem olhar para trás. Estranho... parecia outro mundo! Um mundo onde não havia “ele”...!
Foi aí que a enxurrada de perguntas sem respostas me veio à mente: quem seria aquele homem tão... sedutor? De onde viera? Pra onde iria? Não me lembrara ao menos de perguntar seu nome! Seria um novo morador? Ou parente de algum?
De repente, uma ideia louca: entrei no elevador que já descia e apertei o botão do último andar. Andei pelo corredores, devagar. Mas fiquei temerosa de ser vista ali. Seria no mínimo embaraçoso ser flagrada me esgueirando pelos corredores do sétimo andar!
Decidi desistir, descendo pelas escadas. Entrei em casa e fui direto para o chuveiro.
Será que algum dia o veria de novo? Não conseguia parar de pensar nele, em seus beijos, em seu... ah, estava louca! Louca de paixão pelo desconhecido do elevador! O chato. O machista. O insuportável! O gostoso, o homem com quem passara momentos incrivelmente emocionantes!
Daquele dia em diante – jurei a mim mesma – andaria pelas ruas prestando atenção a cada homem moreno que passasse por mim de terno e com uma pasta na mão. E sempre, ao entrar no elevador, olharia para fora! Quem sabe ele chegasse correndo...?
Entrei no elevador e apertei o botão do quinto andar. Mas, assim que pus o pé no elevador vazio, um homem chegou com uma pasta preta nas mãos. Vinha ofegante, rosto banhado de suor. Ficou parado ao meu lado. Devia estar atrasado para algum compromisso – pensei.
Apertei o botão do quinto andar. Ele, o sétimo.
De repente um barulho surdo foi ouvido e o elevador parou! Sem qualquer aviso prévio simplesmente estacou, recusando-se a sair do segundo andar!
Os técnicos da manutenção gritaram lá fora para que ficássemos calmos, garantindo que tudo voltaria ao normal em alguns minutos.
Senti um pouco de medo. Aquele elevador era mesmo um problema! Decidi relaxar e manter a calma.
Quase sem perceber, comecei a analisar o desconhecido ao meu lado – sob o meu ponto de vista inicial, é claro. Errada atitude. Jamais devemos cometer a leviandade de julgar alguém baseando-nos na primeira impressão que ela nos causa. Mas, eu cometi.
Olhei para a mão esquerda do rapaz: era casado. Devia ser um daqueles tipos chatos – pensei, olhando-o de rabo de olho. Um daqueles maridos insuportáveis que gostam de tudo em seus devidos lugares! Que quando entram em casa querem encontrar os chinelos no lugar. Que reclamam se não encontram o controle da TV, ou se o café não está bem quente. Desses que gostam das roupas muito bem passadas. Que não gostam de nada fora do lugar e que têm hora marcada para tudo: para dormir e para acordar. No banho, minutos contados. Jamais se atrasa.
Parei por alguns instantes de “analisar” o homem e olhei para o número vermelho acima da porta do elevador: continuava parado! E não se ouvia mais nenhuma voz do lado de fora.
Voltei a imaginar: e no sexo? Devia ser um tédio total! A coitada da esposa devia ficar sempre a “ver navios”, pois ele precisava “terminar logo” porque não podia passar do seu horário de dormir! “Preciso acordar cedo amanhã”! – diria.
A esposa, carente, devia ficar desconsolada. Queria sugerir que fizessem algo novo, experimentassem uma nova posição... ou que fosse menos rápido, dando-lhe a chance de ter prazer também! Que a beijasse longamente na boca... que prolongasse um pouco as preliminares! Mas... ele sempre virava pro canto e dormia rápido! A infeliz devia viver com cara de mal-amada, insatisfeita com a performance sexual do esposo!
Já no trabalho devia ser o melhor da firma. Elogiado pelo chefe e invejado pelos colegas, que queriam ser como ele... – prosseguia eu em meu descabido devaneio.
De repente algo fez com que eu despertasse: ele pôs a pasta no chão e desabotoou a camisa, deixando à mostra um tórax forte, moreno e cabeludo. Realmente o calor ali dentro estava de matar! – constatei.
Fiquei um tanto confusa. Não esperava por aquilo! Olhei de novo, sem disfarçar. Percebi que seus cabelos agora estavam despenteados e passava a mão por eles, impaciente. Então, tirou a camisa de dentro da calça. Pareceu finalmente notar que havia alguém ao lado dele. Olhou para mim. Mas não um olhar qualquer. Um olhar daqueles que parece despir a mulher da cabeça aos pés. Um olhar eletrizante, que me deixou de pernas bambas e o sangue a correr mais rápido nas veias.
Seria o calor? – pensei, sem ousar admitir que o olhar do suposto “machista insuportável” estivesse mexendo tanto comigo.
Nenhuma palavra foi dita. Mas, sem percebermos, nos aproximamos um do outro até ficarmos a uma distância no mínimo... perigosa. Mais perto... os pelos dos braços roçando agora... o olhar dele... ah, que olhar arrasador! Como não percebeu antes o quanto era bonito, sua imbecil? – perguntava-me, surpresa.
Silêncio total. Nossas respirações se aceleraram. De repente ele me agarrou pela cintura e me deu um beijo daqueles... daqueles em que a língua do outro parece entrar todinha dentro da boca da gente... nossa! Pronto! Não dava mais pra parar! Perdemos a noção do tempo, aos beijos, nos amando como dois loucos dentro do elevador! Eu nem se lembrava mais que o imaginara um chato, insuportável, machista, etc! Mas... e se fosse? A forma com que ele fazia amor compensava tudo!
Algum tempo se passou. Quanto? Impossível calcular! Nem por um segundo desgrudamos um do outro! Até que novamente ouvimos vozes lá fora.
Rapidamente nos afastamos. Ele abotoou a camisa, ajeitando-a para dentro da calça, ofegante. Eu me recompus da melhor maneira que pude, tomada pelo súbito pavor de ser flagrada no elevador agarrada a um desconhecido!
A porta foi aberta. Os técnicos sorriram e nos perguntaram se estavam bem. Balançamos a cabeça dizendo sim.
A porta foi fechada e a “viagem” prosseguiu. Só que dessa vez tínhamos como companhia os dois técnicos da manutenção – a fim de garantir que nenhuma pane aconteceria até que saíssemos dali.
No quinto andar o danado parou, obediente. Caminhei para a porta do meu apartamento, sem olhar para trás. Estranho... parecia outro mundo! Um mundo onde não havia “ele”...!
Foi aí que a enxurrada de perguntas sem respostas me veio à mente: quem seria aquele homem tão... sedutor? De onde viera? Pra onde iria? Não me lembrara ao menos de perguntar seu nome! Seria um novo morador? Ou parente de algum?
De repente, uma ideia louca: entrei no elevador que já descia e apertei o botão do último andar. Andei pelo corredores, devagar. Mas fiquei temerosa de ser vista ali. Seria no mínimo embaraçoso ser flagrada me esgueirando pelos corredores do sétimo andar!
Decidi desistir, descendo pelas escadas. Entrei em casa e fui direto para o chuveiro.
Será que algum dia o veria de novo? Não conseguia parar de pensar nele, em seus beijos, em seu... ah, estava louca! Louca de paixão pelo desconhecido do elevador! O chato. O machista. O insuportável! O gostoso, o homem com quem passara momentos incrivelmente emocionantes!
Daquele dia em diante – jurei a mim mesma – andaria pelas ruas prestando atenção a cada homem moreno que passasse por mim de terno e com uma pasta na mão. E sempre, ao entrar no elevador, olharia para fora! Quem sabe ele chegasse correndo...?