Saudade Clandestina

Abri meus olhos. Estava cansada de tanto pesadelos. Esperava ouvir o som da chuva, mas nada. O sol brilhava lá fora.

Permaneci encarando o teto, sem saber o que fazer.

“Sinto sua falta.”

Devia ser um dia comum, como antigamente. Uma rotina, sem esse sentimento estranho, vazia.

Sempre estive acostumada a ficar sozinha, e de repente você apareceu. Sem avisar, invadiu meu coração destruindo todas as barreiras.

Foi tudo tão rápido, um suspiro, um picar de olhos e meu coração começou a bater por alguém.

E é nesses dias solitários que percebo o quanto o quero por perto.

Estava entediada demais para ficar em casa, arrumei qualquer desculpa para sair. Andei sem rumo, o que fazer agora?

“Quero te ver.”

Aquela música tocava no celular enquanto eu dava passos lentos naquele caminho que percorríamos juntos. Admito. Duas ou três vezes meu pulso acelerou por pensar ter te visto. Qual foi minha decepção ao perceber que eram apenas alguns caras comuns.

Eram bonitos, mas não era você. E isso já é o suficiente para me fazer desprezá-los.

Observei o mar e suas imponentes ondas por um tempo, lembrando-me daquela vez que dançamos na praia e nos beijamos sob a lua.

Meu Deus! O que você fez comigo?

Não estou acostumada a esse sentimento. Essa coisa que queima no meu peito, essa dor deliciosa. Esse amor, essa saudade tão clandestina.

Nunca fui o tipo de garota romântica, mas você me faz ver o mundo de outra maneira.

Ainda é o mesmo mundo, frio e cruel. As pessoas não mudaram. Mas apenas por saber que você existe fico feliz em viver.

Sentei na grama e a senti em meus dedos, ela pinicava levemente minhas canelas. Algumas crianças corriam e ao meu lado havia um ponto de salva-vidas, abandonado a esta época do ano, marcado por uma pichação vermelha.

Lembra-se desse lugar?

Quando saímos pela primeira vez, sentamos nesse mesmo lugar, ainda como amigos. Você deitou no meu colo e eu acariciei seus cabelos negros.

Meus olhos azuis encontravam os seus castanhos.

Deus! Como eu queria te beijar.

Seu sorriso, o som da sua risada. Adoro ambos, me faz querer sorrir para sempre.

Amo seu jeito desengonçado de andar e a maneira como balança a cabeça. Amo seus braços, seus lábios, seu calor. Amo seus defeitos. Amo cada detalhe.

Amo-o por completo.

Eram duas crianças caminhando no escuro, o mundo pesando em suas costas.

E então nos encontramos. Foi como se o concreto cinza e sem graça se enchesse de cores novas, trazendo a vida.

Peguei meu caderno e escrevi essas bobagens. Essas tolices de uma menina apaixonada. Logo vou levantar e caminhar para casa. Sozinha.

Quando você não esta aqui me sinto insegura, como se toda essa felicidade que senti fosse apenas um sonho do qual vou despertar a qualquer momento.

Mas ficarei bem. Amanhã o verei sem dúvida. Pensar que amanhã estarei em seus braços e que sentirei o sabor dos seus lábios me trás esperança.

Amanhã ouvirei mil vezes você dizer que me ama. E tudo voltará a ser colorido.

Amanda Nunhofer
Enviado por Amanda Nunhofer em 17/06/2014
Reeditado em 25/12/2014
Código do texto: T4848491
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