Expurgando paixões

Toda mudança é uma confusão de lembranças, amontoadas em caixas. Ele ali parado no meio de suas desorganizações organizadas, esperava uma mensagem que o fizesse continuar.

No meio de tantas caixas, uma era a mais difícil de mover, aquela ali, a vermelha. O homem caminhava pela sala iniciando pequenas tarefas e sem conseguir terminar nenhuma, colocar a caixa no local certo estava sendo uma tarefa muito difícil, era a caixa que ele mais amava naquele momento. Não é fácil mover o que se ama, porque se mexe por fora e sacoleja o que está por dentro, só depois de aberto é que se tem a impressão da desordem final.

Entre idas e vindas pela sala, ele tentava se concentrar nas caixas que ele conhecia e tentava esquecer a que ele amava. A cada caixa movida ele sentia sua mão se sujar e logo ia até a pia lavá-las e assim, sentia o vento que entrava pela janela enquanto a água batizava suas mãos. Há um espírito nas coisas inanimadas que faz com que a humanidade faça analogias com suas almas.

Todas as caixas haviam sido guardadas, faltava apenas a caixa vermelha, no centro da sala, ele sentou, chorou, não de lagrimas, não agora, chorou depois, mas naquele momento, ali colocou um vaso de flores sobre a caixa e se deu por vencido. O celular tocou, uma nova mensagem.

Cobalto
Enviado por Cobalto em 16/06/2014
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