Sobre venenos, fardas e rock'n roll.

"Um escritor grafou em algum lugar do mundo: 'não se apaixone pelo perigo'! Talvez ele quisesse se referir às pessoas que almejam adrenalina através de esportes radicais ou aquelas que treinam tubarões brancos em tanques de parques aquáticos. Eu não entenderia o porquê de tais palavras até aquele dia 11 de outubro de 2013. Para dizer a verdade, talvez eu nunca fosse entender, mas passaria a sentir a inconstância do Amor tal como um veneno correndo nas veias, daqueles que por mais que saibamos que nos matará em algum momento, continuamos ingerindo. Mas o veneno, tal como o Diabo tentando os homens, antes distante e impreciso, sorria tão definidamente, talvez pela embriaguez do vinho, talvez por apenas sorrir sem esperança, sem fé n'alguma coisa naquela e noutras noites, descobri bem mais tarde. O fato era o sorriso e a boca, talvez os olhos contrastassem. Sorriso de anjo, olhos devoradores. Em silêncio e com receio, estática à frente dele, parei para esperar um amigo comprar qualquer porcaria que naquele instante nem me interessava mais. Foram os segundos, os minutos mais ínfimos da minha vida! Eu pensava aceleradamente no que falar enquanto aceleradamente falava um punhado de besteiras e aceleradamente meu amigo voltava com a porcaria qualquer na mão: vodca, água, cicuta? Pouco me importava. Queria mesmo era que o meu amigo evaporasse, mas nem mesmo ele saberia que voltaria por uma boa causa. Já chegou atravessando em nossa frente e estendendo a mão pro cara lindo:

- E aí, cara? Esse cara aqui é simplesmente o melhor professor da cidade, inteligente pra caramba! Vocês se conhecem?

Eu nem me lembro o que foi dito depois. Porque não entrava em minha mente que caras interessantes, de sorrisos lindos e olhos penetrantes pudessem, acima de tudo, serem intelectuais ou sequer conhecedores de quaisquer coisas senão futebol ou RPG’s. E enquanto eles conversaram, eu viajei alguns quilômetros num pensamento bem inquieto. Talvez fosse um pressentimento de que tudo aquilo ali não se resumiria numa mera apresentação formal, nem num gole de vinho, nem nas besteiras que eu havia falado sem pensar. Talvez o Déjà Vu quisesse realmente ter um significado além da metáfora dos olhares, numa simples noite, antes, tão sem graça. E, de repente, eu pensei n’algum clássico do rock e imaginei que o cara interessante, além de lindo e intelectual, fosse, quem sabe, surreal e curtisse a perfeição musical. Foi quando consegui desviar meus olhos do sorriso inebriante e pude enxergar a estampa de todo o tamanho na camisa dele: Nirvana! Naquela hora eu entendi, não daria certo mais olhar para outros caras igualmente lindos, porque eles seriam indistintamente desinteressantes depois daquela noite. A parada do ‘não se apaixone pelo perigo’, essa não estava estampada na camisa, nem no sorriso, talvez no olhar. Mas paixões avassaladoras são cegas à maldade ou aos riscos sugeridos. E naquele instante, naquela noite estranhamente mágica, eu já estaria cega para qualquer coisa senão o que poderia haver além da estampa do Nirvana. Além do mundo à minha volta. Seria ele, algum dia... Mas seria, eu tive certeza!"

Anna Beatriz Figueiredo
Enviado por Anna Beatriz Figueiredo em 10/06/2014
Reeditado em 10/06/2014
Código do texto: T4839104
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