FELIZES PARA SEMPRE

Então chegou aquele 28 de julho, data aguardada com muita ansiedade, o ano era 1979. Tudo estava preparado, planejado e ensaiado como normalmente acontece nessas ocasiões especiais.

Os familiares e os convidados aguardavam também afoitos o horário do casório. Nada poderia sair errado, tudo fora cuidadosamente planejado era fato consumado e ninguém tinha dúvida disso.

Os noivos, radiantes como sempre, estavam prestes a dar dentro de algumas horas, o passo mais importante de suas vidas.

Decididamente naquele dia, surpresas, não eram esperadas e muito menos bem vindas e a hora do casamento se aproximava tão rápido como um raio prenunciando uma enorme tempestade, mas por que tempestade, se o dia estava claro e o sol a pino, rachava mamonas?

O relógio caprichoso marcava 15 horas e 20 minutos e aquele noivo que jamais havia planejado se casar antes de sua irmã caçula, de repente se vira enfiado dentro de um terno de cor bege, com uma gravata combinando com a cor da camisa azul clara, sapatos pretos, impecavelmente limpos e polidos, meias brancas, cabelos fartos, porém com um corte bem definido, barba muito bem feita e bigode absolutamente preto e bem aparado, era de fato um noivo que poderia ser apelidado de bonito.

15 horas e 45 minutos e aquele noivo ali no pátio da Igrejinha, suando em bicas e não entendendo nada. Todo mundo sabia daquele seu casamento, super bem planejado, super bem ensaiado, onde nada daria errado, mas como? Cadê a droga do padre?

Não havia padre algum na igreja que estava fechada, tudo lá dentro estava preparado, mas, a porcaria do padre desapareceu, escafedeu-se, mudou de paróquia e não avisou ao seu substituto do casamento das 16 horas daquele sábado.

O destino já pré-definido desenrolava-se de maneira cômica e foi então que o padre completamente à vontade de bermuda e camiseta, passou de carro em frente à igreja.

Estranhou aquele sujeito dentro de um terno, sozinho no pátio andando pra lá e pra cá, parou desceu do carro aproximou-se do rapaz e disse:

— Ora, ora, você não está muito “adiantada” no horária não, seu moço? Esse “casamenta” não será as 17?

—Não seu padre, será as 16.

—Ora moço, não serão “duas casamentos, hoje?

— Não seu padre. Serão três!

— Vixe nossa senhora, só estou sabendo de duas.

—Parece que sim seu padre e é muito bom o senhor se apressar, pois apesar de pedir para o pessoal segurar a noiva mais um pouco, acho que daqui a minutos ela estará chegando por aí.

O padre voou e foi uma correria danada para achar com quem estava a chave da igreja.

Cinco minutos depois o padre chegou junto com a zeladora da igreja e disse:

—Pode mandar alguém avisar que a noiva já pode vir.

O noivo mandou alguém avisá-la.

—Mano, corra lá na casa da minha sogra e pegue nossas alianças que esqueci em cima do criado, faz esse favor, mas não deixe que o vejam.

O irmão do noivo saiu correndo. A casa ficava a menos de 400 metros da igreja. Era só saltar a linha férrea e o noivo pensou:

—Diacho, tomara que não apareça um maldito trem, seu irmão chegou antes da entrada da noiva.

Quando o noivo tentou pegar a caixinha de alianças, ela caiu e uma das alianças saiu rolando pelo piso da igreja e sob um monte de risos dos convidados, o noivo deixou o altar e correu atrás daquela aliança fujona.

Ufa conseguiu pegá-la próximo ao pé de um menino.

—Cuidado moleque, não pise nessa aliança, sentenciou!

Pronto o noivo entregou-as para alguém passar para a dama de honra, justamente na hora em que começavam a tocar a marcha nupcial e a belíssima noiva se aproximava da porta da frente da igreja...

A morena estava encantadora e entrou de braços dados com seu irmão mais velho trajando sua magnífica farda de gala da polícia militar de Aimorés, nas Minas Gerais.

Entregou sua irmã ao noivo e a cerimônia começou.

—Caríssimos irmãos e irmãs estamos aqui para celebrar o casamenta de:

—Como são mesmo, “as nomes” de vocês?

—Fulano e beltrana, seu padre!

—Muito bem, amados irmãos me desculpem, mas padre “Francisca” foi transferido e só avisou-me “as nomes dos noivos dos casamentas das 17 e 18 e esqueceu da casamenta desses duas aqui”.

O noivo disse:

—Tudo bem seu padre, mas, por favor, vamos logo com isso, está bem?

A cerimônia continuou...

— “Muita bem, rapaz, ô rapaz, você já pode beijar a noivo...”

Aquele beijo distraído e conturbado selou nosso grande amor, que nesse julho próximo, irá completar 33 anos, que alguns chamam de idade do Cristo!

25/06/2012

Marçal Filho
Enviado por Marçal Filho em 05/06/2014
Reeditado em 03/12/2023
Código do texto: T4833747
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