O que fodia era o amor.

Talvez se apenas nos gostássemos, quer dizer, se apenas tivesse por você forte desejo ou simpatia, ser-me-ia tudo mais fácil. Mas tinha o amor de foder com tudo.

Agora cá estou a molhar todos meus papeis versados com lágrimas de lamento – as piores –, não há nada pior que lamentar-se por vias do choro. Pranteio pelo que disse e que não disse. Por não poder ouvir sequer outro adeus, que certamente me faria chorar mais do que imagino.

Talvez se fossemos apenas namorados teríamos uma rotina como outra qualquer. Cinema, parque, trocando telefonemas, presentes, carícias, simpatias e afetos e, por fim, juntos à cama. Sem preocupar-nos com todas essas sandices amorosas. Seriamos um casal como outro qualquer. E após o termino de nosso romance – sem amor –, enamoraríamos vezes sem conta, conforme fosse de nosso agrado. E talvez hoje sequer estivesse a falar de você. Talvez estivesse a escrever sobre futebol, novela, gastronomia. Guardaria minhas lágrimas para quando morresse meu cachorro, passasse no vestibular, fosse pelo que fosse. Mas tinha de ser por amor. Que fodeu com tudo, inclusive com você.

Agora estou a pensar se me amavas ou não, como se importante o fosse saber. Estou a procurar aonde vais, se tens possibilidade que te encontres, o que seria algo normal, se não existisse amor. Estou a desejar perdidamente que não te encontres novamente no mesmo passo em que almejo, sofrego, ver-te uma última vez. E não sei qual dos desejos me satisfaria melhor se fosse realizado. Desde que separamo-nos não estou pronto para que de ti me esqueça, ou lembre, sem que derrame todas as lágrimas possíveis, de dor, de amor, de lamento – as piores.

O pior de tudo não é a vida miserável que levo sem ti ou todas as interrogações que faço sobre nós, é que ainda que o amor tenha fodido com tudo, sem ele não teria a menor graça. Se não te amasse amaria outra, minhas declarações tomariam outro rumo, meu coração chamaria por outro que não o seu, e se não tivesse vivido por você, viveria por outra que, certamente, não despertaria em mim o mesmo amor; podendo ser que, por esta altura, fosse mais infeliz. Embora tenha que concordar com minha infelicidade, aceitar minha falta de você, e o fato que o amor seja um pouco fodido, tenho por ele e seus pormenores grande apreço, gratidão, algo indizível, que mostra-me o quão valioso é – ou ainda é –; amar-te valendo tudo que me fodas.

Luís Moreira
Enviado por Luís Moreira em 02/06/2014
Reeditado em 06/02/2015
Código do texto: T4829969
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