Onde estão as minhas cores?

Noite passada eu dormi com a camisola rendada que você adorava , desejosa de seus abraços, sua forma de me despir, de me amar. Segurei aquelas fotos indiscretas de nós dois e confesso toquei-me, pensei nas nossas noites. E chorei após o meu prazer acabar, até dormir

Como se adivinhando as minhas lágrimas você surgiu : Naquela camisa preta que eu gostava tanto e uma calça jeans que deixou seu corpo ainda mais lindo. Meu coração parou quando você pediu que me sentasse e se desculpou por ter me deixado repentinamente, sem me avisar. Aquelas palavras me acalmaram , me fizeram acreditar em um novo recomeço.

Até o despertador me lembrar que eu precisava acordar e de que tudo não passava de um sonho traiçoeiro.

Olho o escuro que tem me cercado, procuro pelas cores que me fugiram desde que você se foi. Ando em preto e branco querendo que esse filme do qual sou a patética protagonista acabe logo. Minhas olheiras desfiguram um rosto pálido que já não consegue disfarçar o inconformismo. Na minha realidade sem cor você poderia ser o meu azul, meu vermelho, o verde mais vivo.

Tirei tantas coisas da minha rotina : Os waffles com calda de chocolate e que não freqüentam mais o meu café da manhã , os minutos a mais no banho. Mas não consigo parar de imaginar que você me espera ao pé da nossa escada, seus olhos verdes a me desejarem bom dia, debochando do meu mau humor pela manhã. Desculpe-me,, mas não consigo me controlar.

Droga!

Sempre fui péssima com perdas, você sabe. Lembra de quando não sabia onde havia colocados meus brincos que foram seu último presente de aniversário para mim? Briguei tanto com você por algo tão banal: Um par de brincos. Que só precisam de atenção para serem encontrados. As pessoas que perdemos para sempre não. Elas simplesmente se vão.

Eu te procuro o tempo todo e você não voltará. Eu te perdi não por minha desorganização, mas porque a vida quis assim ,Me mostrando sua face mais egoísta e injusta ela te tirou de mim sem aviso, sem me perguntar como eu viveria sem você.E me presenteou com essa sombra grotesca a me seguir por onde quer que eu vá.

*

A mesma sombra que me cegou quando atendi o telefone naquela quinta-feira : Eu estava pronta para te ver , como fazíamos nas semanas em que você viajava, em nossos reencontros pequenos com bobas surpresas: Uma lingerie nova, um vinho em nosso caminho de volta para casa. Mas aquele dia a surpresa não foi sorridente, e sim dolorida.

Você não voltaria ,não me receberia com um sorriso ao ver minha roupa nova, a caixa de chocolates que eu havia comprado. Eu não veria mais o seu sorriso, não beijaria mais sua boca. Não teria mais seu corpo em mim.

Porque ele não mais pertencia a esse mundo.Foi agredido naquele carro, esmagado em um acidente causado por um motorista bêbado que, tenho certeza não tinha uma surpresa esperando por ele em seu lar, em seu esconderijo .Mas você tinha, e por causa de uma irresponsabilidade as minhas esperas por você haviam acabado.

Todas as vezes em que eu entrava no aeroporto era como se eu fosse te encontrar pela primeira vez: Mesmo que suas viagens durassem poucos dias minha solidão se traduzia na saudade que eu sentia, na vontade de me perder nos abraços que você me dava. E justamente no dia em que você decidiu dirigir porque estava perto da nossa cidade , nossos abraços foram rompidos, acabados, destruídos.E eu me empalideci , perdi minhas cores, minhas estrelas, meu amor.

E assim vou vivendo, absorta em um cansaço permanente, uma eterna vontade de ir embora, de te encontrar. A raiva que senti daquele que te tirou de mim me corroeu, deixando-me apática, sem cor. É uma dor que me observa incansavelmente, mas que tenho medo de encarar de volta.

Daria meu mundo, mudaria minha rotina, minha vida para que você colorisse novamente esse cinza que habita em mim.

D.S.Consiglio

Débora Consiglio
Enviado por Débora Consiglio em 29/05/2014
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