LADEIRAS E MONTANHAS

A menina, ainda criança, já livre era.

Seus dias vivera entre ladeiras e montanhas. Teve de aprender mais tarde que a vida assim como a ladeira se mostra: sobe, desce; algumas vezes, o corpo cansa; outras, a mente relaxa. Com as montanhas, apesar de ainda amá-las e delas depender; aprendeu, também entre os sobe e desce, que a vida muda de cor; às vezes, cinzenta; outras, verde intenso; algumas, por neblina coberta; mas, frequentemente, brilhante a cor do sol; mesmo que negras fossem durante à noite.

Tentou, sem que ela mesma percebesse e soubesse da necessidade de sua liberdade, brigar pela vida livre... E por ela brigou.

Foi aos poucos seu espaço conseguindo e por anos acreditou tê-lo conquistado definitivamente e viveu pensando ser livre... Até que o dia não nasceu para a montanha clarear e tornou-se escuro.

A menina, já mulher, porém, ainda menina, nada conseguia entender... Porque ainda sem mesmo ter percebido, livre queria ser. E percebeu que para ser ela mesma tinha de romper até mesmo com alguns amores acreditados eternos.

Difícil romper, sozinha, relações para que ela não fosse apenas a metade daquilo que outros esperavam que fossem.

A menina, enfim, teve de tornar-se mulher e tomar decisões... Ser ela mesma uma parte ou seu todo?

Não pensem que foi fácil para a menina, após tanto tempo “confortável” decidir quem ser, mas a mulher decidiu ser ela mesma e os laços romper.

Tudo deveria ser recomeçado e para isso deveria romper laços, estreitar outros para poder criar novos. Deveria deixar muitas coisas para trás, inclusive sonhos já realizados, pois...

Percebeu que amor não prende.

Descobriu que amor não cobra.

Sofrida, compreendeu que amor não julga.

Mas, reconheceu, felizmente, que ela não é tão diferente assim; há outros que pensam como ela; que amam a si mesmos, que ainda acreditam no amor e principalmente na possibilidade de ser livre... Assim como a vida quer; assim como são as ladeiras e as montanhas.

LAUDICÉRIA VERARDO
Enviado por LAUDICÉRIA VERARDO em 28/05/2014
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