Conselhos de um velho
Há poucos anos, quando jovem, interrompia minhas brincadeiras de bola, namoricos, afazeres, para sentar-me na praça onde havia um senhor que dava-me conselhos. Conversávamos tudo, desde bola a namoros. Incrível como entendíamos-nos, apesar da idade.
Numa conversa despretensiosa tocou ele num assunto sem sentido, pelo menos aparentava sê-lo: ‘Perca as ilusões nesta vida’ – disse. Não me fazia sentido, ou talvez fizesse demais.
O que estava claro naquela hora era que o velho me era muito sábio. Meio doido. Melhor fosse encerrar as conversações por algum tempo.
Havia dado-me grande dilema. Necessitaria de tempo, paciência, para entendê-lo. Talvez ainda fosse muito novo para tal conversa. Quem me dera se pudesse naquele dia envelhecer. Compreenderia melhor sua certeza, que virou minha dúvida. Disse-me com tanta clareza.
Era jovem, e naquele momento percebi que o era demais.
Perder as ilusões nesta vida me remetia de início a dois pensamentos: qual outra vida que falava? Qual vida estaria ele vivendo? Era dúvida assaz grande para minha euforia de menino. Despreocupado. Levou-me a pensar que minhas diversões, sonhos, objetivos, tudo o mais eram de pouco valor.
Entristeci-me com essa idéia. Estava confuso, a vida nunca me valeu tanto e nada ao mesmo tempo. Temi por ter vivido uma mentira todos esses anos. Ansiei por conhecer outras vidas, sem ter idéia de como encontrá-las.
Que será que queria me dizer?
Incrível como duvidamos da sabedoria das pessoas quando não a compreendemos. Quando não vivemos as mesmas ‘vidas’ que elas. Passam a nos parecer malucas.
Era jovem quando um velho sábio me pedia para perder minhas ilusões nesta vida. Passaram-se anos, não muitos, suficientes apenas para que envelhecesse e encontrasse remédios. Agora sou eu o velho a te perguntar: que ilusões ainda têm nesta porca-vida? Não lhe direi para que as perca. Soou-me deverás forte aquela frase e interrompeu toda minha juventude. Deu cabo do meu desleixo de pensar, deu cabo da paz que ele o trás. Mas se queres saber mais sobre isso, ou outra coisa que queira melhor compreender, basta que envelheça. Não te precisas esperar correr dos anos, aprenda inda jovem; ou simplesmente com conversas tidas com os mais envelhecidos.