Perdoe-me pelas inúteis conquistas
Vezes sem conta falei-te do meu amor. Que bobagem. Quanta presunção. Achei que dizer e repetir valia por si só. Desprezei os significados julgando que as palavras os traziam em si, sem que me fosse necessário esforçar-me para lhos dar.
Pobre do coração que tem o amor pensado em maior valia do que o vivido.
Amor de boca nada vale, senão para tomar espaço do amor de alma. Amar sem pôr-se como responsável maior do amor é coisa fácil, romanesca e desonesta.
Antes a ti houvesse entregado minhas imperfeições, meus fracassos, do que entregar perfeição apenas em palavras. Antes houvesse minhas misérias vez única te conquistado do que as inúteis mentiras que empreguei para fazê-lo todos os dias. Mulher que muito se ama não merece o descaso de intentar conquistas diárias.
Quando o amor é grande basta que o faça uma vez, sem poupar emprego de esforço, de amor, de verdade, é só o que esperam para largar confiança eterna. Homem que dá amor em conta-gotas não é digno de confiança. O amor tem de ser despendido todo às pressas com avidez tal que se torne incontrolável. Não há declaração de amor maior que derramá-lo de uma só vez, pois mostra, sem titubeios, que sua amada é digna de todo amor que se tenha.
Hoje, parece-me ser tudo que esperavas de mim: que amasse depressa, dando-te em minutos amor de anos, como valesse-se-me pouco teus erros futuros, defeitos a serem descobertos, mostrando que o que de ti conhecia bastava para que te amasse por todas suas incertezas.
Não o fiz.
Soneguei amor. Pecado imperdoável. No correr dos dias dava-te inúteis migalhas amorosas como se me não valesse amar-te muito, como se fosse causar-me mal amar mais do que o planejado.
Gastei tua paciência. Dei silêncio a tuas esperanças.
Tentando conquistá-la todos os dias, dei-te razão da dúvida do meu amor, e cada gota de amor que dava servia-te de prova que não me valia a ponto de entregar-te de uma só vez a certeza de que era dona inexorável do meu amor.