Pensou que fosse fácil...

"A paixão sem a razão é cega, a razão sem a paixão é inativa."
                                                                                       Spinoza
 

Daquele casamento falido quase que desde sempre, Vera não esperava mais nada. Cansara mas, em nome do que chamavam lar aturou as irresponsabilidades cotidianas, a megalomania e até as traições de João pois, apesar de tudo, ele era uma boa pessoa.
Na verdade, sempre fora um péssimo marido. Indiferente e pouco afeito a arroubos amorosos nunca se importou com as necessidades afetivas de Vera, que só soube que era assim depois de casada. A favor dele apenas a capacidade de trabalhar, de não reclamar da vida.
Desde cedo descobriu que era fraco de caráter, era um sem sorte mas era também o pai de seus dois filhos, atencioso e gentil com seus velhos pais e ela foi se deixando ficar,  desculpando seus deslizes, apática e pouco interessada em mudar esse estado de coisa.
Mas naquele mês de tantas festas que fora convencida pelas colegas  a sair com a turma, Vera viu um novo mundo se descortinar a sua frente e gostou, entretanto, se desesperou quando pressentiu o perigo da paixão por um colega de trabalho.
Alfredo, no trato com as mulheres aparentava ser o oposto de João, daí a fama de conquistador, motivo de várias brigas entre as mulheres solteiras e até casadas daquela empresa.
Depois de observar o repertório de gentilezas crescendo e o cerco se fechando, Vera encaminhou a diretoria da empresa uma carta de demissão, pois nem em sonho pretendia resolver um problema arranjando outro maior ainda.