Assim foi e sempre será

Poderia ser dito: mais um dia maldito!

Para o alegre Benedito não.

Depois de um dia sofrido, voltava feliz pela estrada de terra, como se nada tivesse padecido.

Amanhã é dia do seu casamento com Ana.

Uma velha paixão dos tempos de criança.

Dito bateu pernas pela farra aqui e acolá.

Ana, sempre na paixão e a esperar.

Juventude o Dito não tinha mais.

O hímen Ana pra ele mantinha.

No físico e na alma, com pureza e doce calma, Ana com amor suportou firme a longitude das noites de angustias a atormentar.

O dia se fez, agora Ana e Dito são as bolas da vez

Proclama cumprido, até tapete vermelho desbotado e puído foi estendido.

A igreja, uma graça! Alguns alegres raminhos de flores colhidas ali mesmo, ao redor da casa do Dito.

Sempre foi o sonho de Ana se casar na igreja.

Para o Dito, o problema de altar é paramentar.

Paletó até que tem, mas a gravata hummm, isso era um nó.

Nunca aprendeu a fazer, nem aguentou suportar.

Seria um grande sufoco para aquele sensível pescoço.

Certa vez em bravata vociferou: “nessas condições eu nunca haverei de entrar”!

Mas como conter fogo e paixão? O que ficou mesmo a imperar foi o velho dito: “fica o dito pelo não dito”, pela amada Ana estou a tudo disposto, esse é o meu gosto e vou já pro meu posto!

Padre celebrante para firmar o momento marcante, corações cheios de amores, tudo pronto para o momento que promete ser caloroso e emocionante!

No altar já se vê o tremulo Dito e na passarela já caminha sua preciosa donzela.

Embora vivido na vida no entanto, aquilo tudo era novo pra ele, e pra dar conta da situação invocou a tradição: “o que não tem remédio, remediado está”, ou seja, a melhor opção é mesmo relaxar.

Sua surrada vestimenta de linho, um dia foi alva e branca.

O tempo tornou-a amarelada mas, com o crédito da amada, terço na mão e joelho no chão, fez-se do perdão a necessária validação.

Do passado só ficou um leve cheiro de suor, porem agora perde a expressão para um suave perfume de alfazema, apropriada para aqueles que fazem compromissos puros de altar.

Modestas alianças douradas são nos dedos firmadas, um “sim” firme dos nubentes apaixonados, um tímido beijo na frente do padre empolgado, cumprimentos dos amigos fieis, e uma grande noitada a dois, pra firmar de vez a decisão tomada.

Antes do galo cantar e o sino repicar a meia noite daquele mesmo dia, em clima de sorriso e satisfação veio o anúncio da oração:

“Assim foi e sempre será”

João Azeredo
Enviado por João Azeredo em 21/05/2014
Reeditado em 24/05/2014
Código do texto: T4814367
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