Estrelas do rio
Numa fria noite de terça-feira, Pedro se encontrava sentado em frente ao rio, sentindo a brisa cortante beijar seu rosto. A cada beijo que a brisa dava, ele se lembrava de seu grande amor e sentia vontade de chorar. Lembrava-se do olhar marcante que ela tinha, do cheiro de seus cabelos, do sorriso bobo que ela dava pela manhã, quando o sol iluminava seu rosto. Pedro sentia saudade, mas sabia que era o máximo que poderia sentir. Mariana havia deixado uma ferida enorme em seu peito, mas a dor maior era a da morte dela. Ele sentia, sabia bem, aquela história não tinha tido tempo de chegar ao fim. Nem mesmo pôde despedir-se dela, dizer adeus. Será que ela, em seus últimos suspiros, lembrou-se dele? Essa pergunta cruel martelava em sua cabeça, comprimia seu crânio, parecia que iria mata-lo também. É verdade, Pedro pensava muito na morte, se sentia atraído por ela. Afinal, não é fácil perder o amor de sua vida e nem poder se despedir.
Ainda sentado em frente ao rio, ele mantinha o olhar fixo na escuridão que pairava sobre a água. Ouvia atentamente o barulho da água se agitando vez ou outra, parecia a voz de Mariana, chamando seu nome.
Que bobagem! - pensou ele - Não pode ser ela.
Mas bem no fundo ele sabia, ela o chamava. Ele sentia aqueles dedos finos percorrendo seu rosto, a mão delicada que ela tinha era inconfundível. Sem dar por si, Pedro se levantou e foi caminhando até entrar no rio. Sentia a loucura se espalhando por seu corpo, mas sentia também vontade de enlouquecer. A água gelada já o cobria até o pescoço, mas ele precisava ir além. Caminhou mais um pouco, enquanto retirava todo o ar de seus pulmões e sentou-se no fundo do rio. Após algum tempo, seu corpo se debatia, pedia um mínimo de ar, mas ele se manteve firme, até que já não sentia mais nada. Seu corpo ficou lá por dias, até ser encontrado pela polícia, já em decomposição. Ao examinar seu corpo, o legista levou um grande susto. Não se sabe ao certo o que aconteceu, mas em seu peito estava escrito: "Pedro, meu amor, que bom te encontrar novamente, ansiava muito por isso. Foi difícil, mas finalmente consegui te mostrar que seu lugar é ao meu lado". O fato é que não haviam marcas de violência em seu corpo e, por mais que já estivesse em decomposição, o escrito permanecia intacto. Jamais souberam explicar o ocorrido, mas corre pela cidade o boato que Pedro e Mariana são as duas estrelas que refletem sobre o rio, mas não aparecem no céu.