Crepúsculo - Parte III: Talvez Não Seja Impossível
Eu não esperava que as coisas fossem ficar tão ruins. Ele não para de chorar. Só para quando dorme. E quando o questiono sobre isso, ele somente diz que não é culpa minha. Mas sei que é. E por mais que meus olhos se encham de lágrimas constantemente, não me permito chorar. Tenho que ser forte, por nós dois, agora.
Naquela tarde, depois que ela explodiu, gritando em meio às lágrimas, ela berrou que queria terminar. Claro que é compreensível, e que ela está muito mais do que certa. Senti-me envergonhada e culpada instantemente. Porém, naquele momento, não havia mais nada que eu pudesse fazer. Ele correu atrás dela, voando escadaria abaixo, tentando convencê-la de que ainda a amava. Entretanto, isso de nada serviu. Tentamos ligar para ela, mas seu telefona havia sido desligado. Ninguém atendia ao telefone de sua casa. Era como se ela tivesse desaparecido do mundo. Não disse nada a ele, mas fiquei pensando se a noticia já se espalhou para todos na escola. Entretanto, ninguém comentou nada no dia seguinte. Não comentaram meu silêncio, nem a ausência dele. Talvez estivessem tentando ser discretos, mas não acredito tanto nessa possibilidade.
Aqui, em seu quarto, o frio congelante entrando pela janela, a atmosfera parece a de um filme gótico. Mesmo sobre os cobertores, ainda sinto frio nos ossos. Sei, porém, que é psicológico. É minha condição mental. Pois não machuquei apenas uma garota inocente. Machuquei, também, a pessoa que amo, o garoto que me acolheu, que me deu carinho e base para colar os pedaços de mim. Aquele que arriscou sua relação perfeita com sua namorada magnífica por mim. Tudo o que eu deveria fazer, era, no mínimo, preservar isso. Mas nem disso fui capaz. Uma lágrima corre por meu rosto, e a seco, com minhas mãos frias.
Neste momento, ele dorme. Olhando para seu rosto, sua cabeça recostada no travesseiro branco, posso ver a extensão dos estragos que consegui fazer. Seu rosto está avermelhado, mas não pode ser comparado a seus olhos. Estes estão vermelhos, inchados, ainda com as marcas dos rios de lágrimas. Lágrimas que eu provoquei.
Deitada ao seu lado, imagino o que posso fazer para consertar isso. Mas nada me vem à mente. Então, simplesmente deixo que as lágrimas rolem. Estou tão exausta de segurá-las.
Ele
Não é sua culpa!, penso, mas não sou capaz de transformar este pensamento em palavras. A culpa é minha, mas as palavras simplesmente não saem. Estão paradas em minha garganta, incapazes de saírem sozinhas, e eu não possuo forças para coagi-las a sair. E é verdade, minha afirmação. Cavei três covas ao beijá-la na chuva, a minha, a dela, e de minha namorada – ex-namorada. Sinto-me tão envergonhado pelo que fiz. Sinto-me culpado por causar do a inocentes. Porém, por mais que a sensação de culpa me abata, a tristeza tomou conta de meu corpo, como um torpor. O sofrimento destas duas almas simplesmente me derrotou, quebrou minhas pernas e meus braços. Não consigo fazer nada além de ficar deitado nesta cama, como um moribundo, chorando e lamentado. Não chore, querida, digo á ela, á garota em minha frente, em minha mente. Entretanto, posso ver em seus olhos um pequeno lampejo. Ela quer fugir. Quer sair daqui, consertar as coisas com minha ex-namorada, e sair de minha vida.
De olhos fechados, posso sentir, quase ver, as lágrimas caindo de seus olhos, ensopando meu travesseiro. Um bolo se forma em minha garganta quando a ouço gemer. Ela soluça, chorando. Mais lágrimas rolam por minhas faces, e se unem ás dela. Pelo menos elas se sentem bem. Minha mão esquerda roça a dela, e aperto-a contra a minha. Nossos dedos se entrelaçam. ela aumenta a pressão do aperto. Abro os olhos lentamente. Eles queimam, ardem, e minha visão fica embaçada por um momento. Quando finalmente vejo-a, meu coração dá um salto e se acalma. Seu rosto é tão angelical, tão belo, que não consigo mais chorar. Minhas lágrimas cessam. Tento – não sei se sou bem sucedido – dar um sorriso. Ela retribui. Todavia, em um segundo, seu sorriso se desfaz, e as lágrimas reaparecem. E, subitamente, ela se levanta. Antes que possa dar dois passos em qualquer direção, recupero minha voz.
- Não vá! – consigo dizer, mas minha voz é baixa e rouca.
- Não posso ficar – diz ela, sua voz de sinos de vento clara, porém dolorosamente triste. – Se eu ficar, só irei te machucar mais. – impelido por uma força que eu não sabia que existia, pulo da cama, corro até ela e abraço-a, tudo em um segundo. Arfo repetidamente. Não por cansaço, porém pela perspectiva de ela sair por aquela porta. Sinto sua relutância quando ela segura meus braços.
-Se lembra... daquela música? Aquela que tocou no filme sobre vampiros? – pergunto. Ela não responde. Só seus soluços podem ser ouvidos no silêncio. – Lembra-se da letra? – é uma pergunta retórica. Sei que ela se lembra. Então, continuo, minha voz ficando estrangulada e falhando á medida que cito a letra em português. - Porque não haverá luz do sol... Se eu te perder, amor... Não haverá céu claro, se eu te perder, amor... Assim como as nuvens, meus olhos farão o mesmo, se você for embora... Todo dia, vai chover, chover e chover. – e começo a chorar novamente. – Eu te amo... – consigo dizer, entre soluços. – Sei que não te mereço... Mas, por favor, não me deixe!...
Continua...
Agradecimentos:
Como sempre, agradeço primeiro aos leitores (e aos fãs). Vocês são, eternamente, as pessoas mais importantes da minha vida.
Agradeço ao cantor Bruno Mars (It Will Rain é perfeita) Agradeço à minha banda favorita, t.A.T.u. (várias músicas suas (quase todas) foram incluídas à minha playlist "Anti-bloqueio").