Crepúsculo – Parte II: Quase Impossível

Então, de repente acredito que a sorte pode realmente mudar. Não mudar completamente, virando a banca, mudando o jogo, invertendo pontuações. Porém, pode mudar um pouco.

“Seus braços me envolveram, apertando-me contra ele, fogo e gelo. Eu tinha a impressão de que cada terminação nervosa do meu corpo era um fio desencapado.

“-Para sempre – concordou ele, depois me levou com delicadeza para as águas mais profundas.”

Estas foram as palavras que li no livro. Porém nelas não prestava atenção. Fiquei repetindo em minha mente os acontecimentos da noite passada.

Um beijo. Quente, contra o gelo em meus lábios, gelado contra os lábios quentes dele. Assim que ele terminou de dizer as palavras “Tenho algo para te dizer”, ele me beijou. Seus lábios pressionaram os meus com delicadeza, talvez com medo de ferir minha pele frágil, de papel, como gelo fino. Porém ele não me machucou. Ao contrário. Senti, naquele momento, as feridas enormes e rachaduras angulosas se fecharem um pouco, como se houvesse resina em seus lábios. Entretanto, diferente de resina, seu lábios tinham um sabor doce, quase como açúcar real. De início, fiquei assustada. Não esperava por aquilo. Nem esperava que um dia isso fosse acontecer. Então, meus lábios haviam ficado tensos, duros. Quando descobri que era real – por mais que este quadro pintado tenha um aspecto mais onírico que qualquer outra coisa -, entreguei-me ao beijo. Deixei que ele me conduzisse, que fosse o líder de nosso navio, que rumava um mar de paixão, inexplorado, desconhecido, contudo igualmente belo, esplêndido e glorioso. Quando finalmente compreendi que estava basicamente morta, de tão parada, tomei iniciativa. Tomei as rédeas sobre mim mesma, conduzindo-o, desta vez. Ele deixou que eu o beija-se, que assumisse a direção do leme do navio. Fomos, por mim culpa, ou graças a mim, conduzidos em direção a um redemoinho. Fomos jogados de um lado para o outro, atirados, porém, mantivemo-nos firmes e agarrados. Percebi que seus braços estavam em minha volta, segurando-me, então o imitei. Segurei-o com força – e com medo de deixá-lo fugir. A chuva que caia sobre era, agora, fraca, acariciando nossa pele e cabelos.

Então ele disse palavras que me feriram, porém, por algum motivo, não me destruíram. “Eu não vou terminar com ela”, disse ele, me cortando com lâminas. Automaticamente, meus olhos se encheram de lágrimas. Segurei minhas lágrimas. “Entretanto...”, começou ele. Então continuou, sua voz estrangulada. “Arg... como fui idiota...” Não havia compreendido o que ele havia dito, mas ele continuou falando. Agora eu via, claramente, lágrimas descendo por seu rosto angelical. “Desculpe-me... Eu não devia tê-la beijado... porque no momento em que meus lábios tocaram os seus, eu assinei sua sentença de morte...”

Ele conhece minha dor. Conhece minha agonia por ele. Sempre conheceu. E se arrepende. Arrepende-se de ter dito que não pode se separar dela, nem de mim – palavras dele, não minhas. “Não pense que isso é egoísmo ou cobiça. Eu amo a vocês duas...”, disse, sua voz ainda mais estrangulada. Então ele se levantou e tentou se afastar. Porém, por mais que isso me machuque, eu jamais poderia me afastar dele. “Porém, muito pior eu ficarei se você me deixar”, implorei eu.

Entramos em um consenso, então. Eu posso ficar – e estou exultante por isso, simplesmente explodindo de felicidade. Ele me ama, como a ama, então não podemos nos separar. Porém, por amá-la, também não pode deixá-la. Então, em frente a ela, nos trataremos como amigos.

Na varanda de sua casa, é mais fresco que dentro da casa. O sol brilha alto no céu, dá a pagina de meu livro um aspecto divino. As letras negras contrastam a página amarelada, ofuscam minha visão.

- Você não já leu esse livro? Quatro vezes? – pergunta ele, seu hálito de melancia roçando meu rosto, acariciando e me seduzindo. Viro-me para ele e o beijo. Demoro-me alguns segundos em seus lábios. Respondo somente quando consigo me libertar de seu encanto.

- Cinco vezes, sim. – olho para o livro, agora fechado. A capa – preta, reluzente ao sol – prende minha atenção, e quase posso ver as duas peças de xadrez se moverem sozinhas, flutuando do papel. – É fascinante a devoção da personagem principal para com a filha e o marido. – dou uma risadinha curta, sarcástica. – Claro, isso deve ser fácil porque eles são vampiros.

- Blábláblá – brinca ele. – Não entendo como consegue ler esta porcaria. - ele pega o livro de minha mão, e o balança no ar com os dedos indicador e polegar. Tento pegar meu livro de seus dedos, mas ele puxa e segura com a mão, e então coloca nas costas.

- Devolva meu livro, sim? – peço.

- Só com uma condição – diz ele, seu sorriso zombeteiro. Ele levanta uma sobrancelha, o que atenua a pequena piada. Imagino qual será a condição.

- Qual condição?- pergunto, porém consciente de sua resposta. Por isso, levanto-me do divã e fico bem próxima a ele, quase colada. A voz desliza de seus lábios enquanto ele sussurra a condição para mim.

- Beije-me – e a fragrância que flui de sua boca me faz perder o controle. Automaticamente uno meus lábios aos dele, buscando a fonte daquele perfume adocicado. É ele, porém, que encerra nosso beijo. Antes que eu possa perguntar, ele responde minha pergunta. – Ela vem aqui hoje. Já deve estar chegando. Isto se não chegou. – ele me dá mais um beijo demorado – sem língua. Sorrio para ele, e meu sorriso é enorme e genuíno. Por mais que seja confusa, é felicidade que sinto.

Entretanto, meu sorriso de desmancha e se dissolve rapidamente, e dá lugar a uma dor enorme, como um corte feito por uma espada, em meu peito. Jamais fora minha intenção causar tamanha destruição, tanto dano, como acabei fazendo. Porém, estou perplexa e assustada demais para chorar. Porém, ela não está. Pegos de surpresa, aponta minha mente. Aquiesço mentalmente. Lágrimas escorrem de seu rosto, sua pele clara como neve agora tem marcas de pequenos rios que fluem de seus olhos. Sua boca está retorcida, numa expressão que se divide entre surpresa, dor e raiva. Suas mãos estão fechadas, e posso ver os nós de seus dedos ficarem brancos. Seu rosto fica vermelho subitamente. Estremeço. Não posso culpá-la. Começo a ofegar. Ele percebe, e olha para trás, na direção da entrada de seu quarto.

Na porta, a garota que ele supostamente jamais deixaria, a garota que ele não pode abandonar, pois também a ama. Na porta, minha rival está parada, chorando, mãos fechadas em punhos. Chocada. Enfurecida. Machucada.

Continua...

Agradecimentos:

Agradeço, primeiramente, novamente, aos leitores. Sem vocês, esta história seria somente mais um conto postado em um site conhecido. Agradeço sua colaboração na realização da série de contos Crepúsculo ( por mais que eu leve o nome de uma obra literária tão boa quanto).

Também agradeço à uma de minhas autoras favoritas: Sthepenie Meyer (sou viciado em A Hospedeira), por ter me ensinado a escrever, indiretamente falando, é claro.

Agradeço ao grupo Lady Antebellum, pois uma de suas músicas inspirou um beijo épico. Também à minha querida Demi Lovato, pois suas músicas sempre me tiram da fase de bloqueio. Agradeço à melhor banda de new-metal de todas - sua música/trilha sonora de Twilight inspirou algumas decisões sobre o rumo dos acontecimentos. E finalmente à Chieki Kawabe, e sua música Be Your Girl (Ser Sua Garota ajudou na hora do beijo)!

Bruno R Montozo
Enviado por Bruno R Montozo em 29/04/2014
Reeditado em 09/06/2014
Código do texto: T4787716
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