Impossibilidades
A conheci numa dessas mesas de bar descascadas e molhadas de cerveja. Ela era o tipo de garota que eu não notaria. Cabelo bagunçado, roupas largas e levemente rasgadas, olhos confusos, um par de brincos nas orelhas, nada de interessante.
Eu sentei sozinha, ouvia a minha trilha sonora de bar tocar ao fundo, sentia a fumaça do cigarro penetrar minha roupa e a cerveja esquentava. Ela passou por mim inúmeras vezes e a cada vez que ela passava por mim, eu percebia um rasgo a mais na sua calça, mas em nenhuma dessas vezes eu percebi seu olhar querendo conversar com o meu.
Reparei no cabelo dela por uns minutos enquanto ela reparava nos meus traços mais profundos. Percebi um par de brincos em forma de coração por baixo dos cabelos e abaixei a cabeça, ela continuava a enterrar seus olhos em mim.
Fui pagar a conta e me perguntei o porquê desta menina ter desperdiçado tanto dos seus minutos olhando para mim.
Mal arrumei o meu cabelo aquela noite, minha camiseta era maior do que eu caberia, meu par de brincos era horrível e eu sentei sozinha numa mesa descascada e molhada de cerveja.
Nem reparei que sentávamos na mesma mesa, cantávamos a mesma música e usávamos a mesma roupa.
Sentei comigo mesma e nem reparei.