Contos de um escritor qualquer

Apesar de gostar de escrever não sou muito bom, desperdiço algumas boas palavras em alguns poemas. Vida de escritor não é fácil, uma obra nunca parece estar perfeita pra você, sempre falta um pouco de sentimento, um pouco de paixão, algumas palavras, talvez até alguns beijos. Antes de entrar nessa vida sem futuro, vivi uma ainda pior, se um escritor nunca se contenta com sua obra, um poeta menos ainda, nunca há um contentamento com o que um poema se expressa em suas poucas palavras de pura poesia. Claro que isso é a opinião de um homem que não sabe ser escritor, e só escreve para reatar algumas esquecidas lembranças de uma boa época, com a sua memória já amargurada pelo tempo de solidão, mas não de qualquer solidão, uma solidão de um romântico, de um romântico no tempo errado.

Lembro-me de quando comecei a ser um romântico, não se é romântico toda a vida, sempre há aquela menina, ou mulher que te faz pensar que ela merece algo mais, que ela não merece apenas abraços, ou simples beijos, como se isso fosse pouco de se dar a qualquer uma. E aos 16 anos, numa terça-feira de inverno, num dia perdido apareceu aquele sorriso que eu tanto gostava, ornado por aquela boca que nunca vou esquecer, acompanhado daquele jeito simples de me fazer sorrir. Talvez eu já estivesse apaixonado e não sabia, como se pode ter certeza de um sentimento que não foi você quem o definiu? Naquele tempo eu gostava de fazê-la sorrir por nada, pelo simples fato de querer ver seu sorriso. Eu tentei de tudo para te-la, fiz tudo que vi em filmes, mas na hora, pelo acaso talvez, eu fiz diferente. Não sei o porquê, com certeza não sou um galã de cinema, e não te beijei na hora certa, nem me contentei com seu abraço. Eu sei que na hora errada eu fiz a coisa errada, e te deixei escapar, nessa hora eu fui covarde, coloquei a culpa de tudo em você, quando, na verdade, a culpa deveria ser minha.

Agora eu vejo onde tudo se perdeu, e em vez de ser escritor, queria saber tocar violão, para fazer minhas palavras soarem um pouco melhor, e não parecer uma mera reclamação de alguém amargurado tentando relembrar de seus bons tempos. E depois dessa desventura que virei escritor, um escritor que escrevia poemas que jamais serão recitados, monólogos que nunca serão interpretados, contos que não serão contados, e cartas de amor que nunca vão ser lidas. Hoje em dia eu sei que as vezes uma mulher precisa de um “oi” pra poder falar, mesmo que ela queira intrinsecamente falar, as vezes ela precisa de uma flor pra se sentir especial, de uma carta de amor pra saber o que se sente, de um abraço para poder chorar, de um beijo para poder se calar, de alguém que a possa escutar, e que também possa confiar. Uma mulher precisa de muitas coisas, mas de vez em quando ela só precisa, e não sabe, de dois ou três versos, de alguém despretensioso, para ter no que pensar à noite, e perceber que alguém se importa com ela. E essas palavras fizeram diferença, mas eu disse para fazê-la se sentir melhor, e acho que ela sentiu falta de que eu fizesse o que disse e não apenas tivesse dito.

E naquela terça de setembro que eu nunca vou esquecer, recebi um “oi” tão convidativo que não pude resistir, mas o que era além de um belo semblante e algumas doces palavras? Mas com o tempo percebi que não era tão pouco, era um sorriso que toda vez me surpreendia, um abraço que me acolhia, um beijo que nunca deixava eu te esquecer e palavras que pareciam ser sempre perfeitas. Em meio ao que o pouco se tornou, tudo mudou, mas por quê? Era tão simples e eu no meu jeito quis complicar, por que perguntar se não desejava as respostas, eu devia ter percebido no seu olhar, mas não... E hoje, tudo que me resta são lembranças amarradas por meias conversas do que já não somos mais, que a cada conversa se perdem, as doces lembranças, em palavras amarguradas ditas por nós dois.

Ainda tenho guardado a primeira carta que fiz, era tão apaixonante, mostrava tanto o que sentia, ela dizia: “Estou perdido, perdido e não sei onde estou, eu me perdi quando tentei te esquecer , a vida não tem sido fácil pra você, mas você que fez assim, eu fiz o que pude, ou o que achava que poderia fazer, talvez em outros dias, outros anos, nós seriamos o que nunca fomos, e de pouco em pouco tudo vai ficando pra trás e ao que sobra eu me agarro tentando lembrar de alguns bons momentos. E eu ainda tento, de algum jeito que eu não sei dizer, não tenho coragem pra falar tudo, e por mais que tivesse acho que você não responderia, não consigo ficar longe de você, mas disso você já sabe. Agora o que nos resta é ficar assim sendo amigos que não se confidenciam e namorados que não se beijam”. Poucas palavras, mas elas ainda me fazem lembrar de tanta paixão, o tempo passou e o sentimento ainda persistia, em cada momento nostálgico de nossa felicidade.

A vida foi assim, e essa paixão me tornou romântico, não lembro quando exatamente, mas esse teu jeito me fez levar flores, dizer palavras bonitas, escrever poemas. Essa vida não me fez bem, me amargurou por dentro, e em tanto tempo sabe-se mais quais males me causou. Talvez eu deva todo esse meu jeito errado de ser a você, eu não sei onde me perdi do que eu era quando amei você.

Lembro-me de nossa brigas, elas eram as melhores, a gente se divertia como se não houvesse amanhã, e em poucos momentos algo ficava diferente, conversas cada vez mais curtas e menos divertidas, tudo porque você era tímida e eu controlador, cada vez que algo saía do meu controle isso acontecia e durava mais até que um dia parássemos de nos falar, talvez por um momento de raiva, ou pelo simples fato de você entregar seu coração a outro alguém, e minhas palavras já não se fizessem mais importantes, tanto quanto minha presença.

E você sempre consigo mesma, nunca entendi o por quê, entretanto percebi que era apenas seu jeito de não se perder nos seus sentimentos. E quando vi que tudo era assim, me levantei da cama, e corri até sua casa, não era longe, alguns poucos pensamentos da minha, quando cheguei, fiquei olhando pensando que homem nenhum a faria tão feliz quanto eu, nenhum conseguiria tentar te dar tudo que eu lhe ofereci. Olhei para sua janela mais uma vez, e me virei com passos vagarosos e cabisbaixo, aquele curto caminho não me deixará pensar direito, e com lágrimas a escorrer percebi que o que tinha me dito uma vez era verdade, eu ia fazê-la chorar, preferi deixar-te triste por uma noite a continuar tudo, esperando o dia que não ia mais conseguir visitá-la, pelo meu jeito controlador e prepotente de ser. E antes de partir pra sempre, e esquecer tudo em uma gaveta cheia de poemas, cartas e textos, fui até a esquina e comprei uma rosa e junta a um bilhete que dizia: “As lágrimas curam a tristeza, mas quando persistem, arrancam-te a felicidade e deixam uma ferida” deixei meu ultimo romantismo à sua porta, sem dizer que era meu. Você dificilmente entenderia o que eu quis dizer, mas algumas belas palavras iriam alegra seu dia, ou pelo menos daria algo pra pensar. Foi então que me despedi do meu amor, pelo menos era isso que eu pensava. Essa despedida ficou na minha mente, e eu sonho com o dia em que eu veria você saindo pela porta pegaria a rosa e meu bilhete, leria tudo num piscar de olhos, olharia para aquele sujeito cabisbaixo que andava, jogaria tudo para trás e sairia correndo para abraça-lo e dizer as mesmas palavras que um dia te disse, que não era a pessoa mais bonita, que não era a mais legal, nem a mais inteligente, mas era a mais perfeita para você, mas eu teria de ter a coragem de fazer tudo isso.