O livro todo
E naquela mesa da lanchonete do shopping os dois estavam um de frente para o outro. No meio de tanta gente estavam sozinhos num silêncio ensurdecedor. Não sabiam onde colocar as mãos, não sabiam pra onde olhar.
A impressão que os outros tinham é que eles pareciam estátuas de tão quietos e silenciosos. Aqueles que queriam uma mesa vaga lhe lançavam um ódio mortal. Eles não percebiam nada. Para eles os outros se moviam rápido demais. Eram como manchas passando... Vultos coloridos . Pessoas sem rostos, sem nomes, apenas velocidade.
Se sentiam presos dentro de um filme. Eles sendo aquele foco principal e resto todo aquela figuração sem importância nenhuma para a cena por assim dizer... Não tinham coragem de se olhar, não tinha coragem de se tocar e muito menos falar. Mas também não conseguiam se levantar, ir embora. Continuavam ali remoendo aquela ansiedade, saboreando a angustia que aquele silêncio lhes deixava. Olhares perdidos e mil palavras presas na garganta.
Ela reúne suas últimas forças. Não suportava mais aquilo ali. Queria sumir, desaparecer. Não queria sentir aquele desespero velado que em sua consciência já era nítido de uma dor futura. Então levanta a cabeça, quase como em câmera lenta e olha bem nos olhos dele.
Um olhar tão penetrante que para ele foi como se recebesse uma nevasca. Um frio intenso chegando a sua espinha e lhe fazendo tremer. Ele agora também a encarava como se soubesse já o que sairia dela seriam palavras de corte... Aquelas palavras que cortam a nossa alma e nos fazem sangrar por dentro.
Ele então desviou o seu olhar dos olhos dela e ficou a observar sua boca se abrir. E ela quebra o silêncio:
- É melhor assim... Seguir em frente. Virar a página.
- E de quê adianta virar a página se pra mim você é o livro todo?