O banco branco da espera
Jandira se sentava naquele mesmo banquinho da praça todas as manhãs. Sempre com aquele punhadinho de arroz que levava em um saquinho de pão. Ficava lá alimentando os pombos e tomando sol.
Nas mãos trêmulas daquela mulher cheias de manchas e rugas brilhava um anel. Seus parentes sempre diziam que a cidade estava violenta e ela naquela idade era muito imprudente sair com uma joia daquele valor. Mas Jandira não ligava pra nenhum deles.
Os moradores daquele bairro já consideravam a velhinha como parte daquela praça. Era impossível imaginar aquele banquinho branco e descascado sem Jandira nele. E há anos ela se sentava lá religiosamente e sempre com aquele anel no dedo.
Numa dessas manhãs Jandira estava relaxada no banco sentindo o sol em seu rosto e de olhos fechados respirava fundo aquele ar puro. O vento frio não a incomodava ela deixava seus cabelos balançarem a vontade com a cabeça tombada pra trás. Mas uma sombra chegou ao seu rosto e ao sentir o calor do sol ir embora , Jandira abriu os olhos e viu um homem contra a luz. Ela forçou a visão mas o sol não atrapalhava ver o rosto dele.
O homem então se afastou e se sentou ao seu lado. Sorriu e Jandira não mostrou nenhuma reação. Ele então lhe perguntou:
- Não se lembra mais de mim Dona Jandira? Será que faz tanto tempo assim?
Ela não olhou mais no homem, mas sim nas flores do canteiro em frente. Se perdeu na visão das flores e começou a se recordar daquela praça em outros tempos e sua mente a levou em um dos primeiros dias que ela se sentou naquele banco...
Jandira estava linda, com cabelos bem negros, ondulados e soltos pelos ombros. Vestia um vestido de cetim bege cheio de florzinhas vermelhas e folhas verdes bem escuras. Um cinto muito fino que parecia fazer com a saia ganhasse volume. Sapatos pretos fechados e aquele perfume adocicado.
Ela estava nervosa esperando pelo noivo. Antero estava atrasado e ela caminhava de um lado para outro em frente aquele banco novo que colocaram na praça. Ela gostou daquele banco branco. E ansiosa se sentava, levantava, caminhava e se sentava outra vez. Cruzava as pernas, descruzava, olhava pra um lado da praça, pra outro... Até que viu Antero se aproximar naquela farda.
Ela sorriu e correu até ele e de mãos dadas eles caminharam e se assentaram no banco branco. Antero lhe beijou suavemente e lhe deu uma caixinha. Jandira abriu e viu o lindo anel que imediatamente colocou no dedo soltando um gritinho de alegria. Até que Antero disse:
- Estou indo pra Itália. Você sabe disso... Tenho que honrar nosso país nessa guerra.
Jandira já sabia, mas ouvir aquilo era tão doloroso. As lágrimas rolaram por face enquanto Antero lhe recitava uma poesia de despedida. E depois de longas juras de amor ele se levantou para ir embora dizendo...
- Me espere aqui... Esse banco será nosso! Eu volto.
E Jandira esperou... E agora tirando os olhos do canteiro de flores respondeu ao homem ao seu lado.
- Claro que me lembro de você... Martim.
Martim sorriu e convidou a velhinha para lhe acompanhar até seu carro que estava parado do outro lado da pracinha. Do banco branco até o carro caminharam devagar numa conversa cheia de recordações. Até que chegaram no carro. E ela viu o irmão de Martim assentado no banco da frente.
O homem sorriu e abriu a porta. Tirou as muletas e tentou se apoiar em sua única perna. Jandira tentou ajudá-lo mas ele não deixou. E de muletas caminhou até ela. Agora se assentaram no banco mais próximo do carro de Martim. O homem sorrindo lhe disse:
- Demorei muito?
E Jandira lhe mostrando o anel respondeu sorrindo:
- Apenas 40 anos Antenor...