Na cabana
Sentado a beira da lareira observo atentamente o crepitar das chamas, o cheiro das brasas vivas trazem-me lembranças de uma vida distante sem medida temporal. Dou-me inteiro enquanto suavemente minha alma desliza para fora de seu templo carnal. De repente sinto minhas pernas congelarem, respiro profundamente e me permito levar sem destino. Aos poucos vou me percebendo caminhando à noite em uma floresta coberta por neve, a caminhada é difícil e o frio de tão intenso chega a congelar os “ossos”. Vejo meu corpo protegido por vestimentas rudimentares elaboradas com peles de animais, depois da caminhada chego a uma cabana construída com grosas toras de madeira, lá dentro a outra lareira onde a chama trás a moradia o calor necessário a vida. Tudo me é muito familiar, meu coração acelera ao perceber uma figura feminina de costas para mim, chego a sentir o seu doce e delicado perfume, uma tormenta de fortíssimas emoções invade minha alma. Ela se vira para mim evidenciando um largo sorriso enquanto todo o ambiente inunda-se da alegria de nosso encontro. Tudo gira mudando rapidamente o cenário, agora do lado de fora da cabana não há neve, olhando o céu vejo uma “chuva de estrelas” que não tocam a terra. Em meio à magia do momento a mulher da à luz uma criança, há muito sangue, forças ocultas tentam arrebatar a criança, porém minha presença é suficiente para contê-las. Observo minhas mãos ensanguentadas, pois havia realizado o parto, o alívio estampado nos olhos da mulher demonstrava que tudo tinha dado certo. Não consigo reter nada, novamente tudo se esvai como fumaça ao vento, deixando forte no peito um gostinho de “quero mais”.