AUTO-DECEPÇÂO

“Covarde: sou eu, esperei tanto para quando chega o dia, o medo me vem, e assim desisto.”

Marcamos de nos encontrar (e assim será o nosso segundo encontro). Como eu no primeiro já tinha ido até lá, ela desta vez veio até aqui (não exatamente aqui, um pouco ainda distante). Combinamos de nos encontrar no terminal de metrô Tucuruvi, ela teria chegado mais ou menos umas 11 horas da manhã. Então ela me manda uma mensagem dizendo que já estava a caminho do destino marcado. Fui pegar o ônibus, eu não sabia que os pontos tinham mudado, e o ponto que me levaria direto até la, estava bem distante, então resolvi fazer baldeação. Demorei uma hora e pouca, pensando “caramba, ela deve estar esperando a muito tempo já...”

Chagando lá, dei um toque no celular dela (estava eu sem crédito) ela me retorna, pergunto onde ela está, ao telefone e ainda caminhando pergunto onde ela está, ela responde pedindo pra mim olhar para trás, estava ela sentada e eu na frente dela.

Nos abraçamos, e como no fantástico encontro passado eu teria a beijado. Nos abraçamos e eu esperando ela me beijar (tanto tempo esperei) mas não, um simples beijo no rosto, dizia ela que iria me manchar de batom (nossa, aquele batom vermelho nela...) andamos um pouco procurando um bom lugar para conversarmos, sentamos em um banco no shopping do Tucuruvi.

Eu...eu, tinha a um bom tempo já, planejado uma surpresa para ela, que também seria uma surpresa pra mim. Eu não tinha dinheiro algum, meus pais desempregados não puderam me arrumar um trocado. Então meu primo me arrumou pelo menos a passagem...como eu não tinha um centavo sequer, fiz o que podia, o que sabia. Passei horas preparando um poema para ela, quando terminei, fui imprimir. Fiz um tipo de pergaminho, com até um selo. Meio que colei uma aliança junto ao texto com a descrição: “Se aceitas, abras...” (a aliança encontrava-se dentro de uma espécie de caixinha dobrada, colada junto a folha de papel...) o poema era o que eu não conseguiria dizer, por medo. Era um pedido de namoro, escrito por simples palavras, pensei eu que escrevendo, criaria mais coragem. Mas na hora de entregar a ela o tal pedido de namoro, não consegui, um medo interno me possuiu, não sei explicar bem o porque, mas não consegui. Fui covarde, inseguro e um imbecil.

Sentados, ela pega meus braços e passa por trás dela, fazendo com que eu a abrace por trás, ela olha pra mim e me beija, Deus, é tão bom sentir seus lábios aos meus, seu cheiro, sentis sua pele a minha. Permaneci muito calado, porque quanto mais eu penso, o silencio mais intenso é.

Juro que eu queria falar, tanto que ela até falou pra mim falar alguma coisa. Mas o que eu iria falar? Que sou um covarde? Medroso? Não, preferi ficar em silencio, o silencio muitas vezes é torturante, mas também é uma forma sútil de refúgio.

Então percebi que nosso tempo já se esgotava, ela dizendo: “let’s go” e “Come on!” que por devera pedira pra irmos indo embora. Eu tentava ignorar, não queria deixa-la. Mas então fomos indo em direção ao terminal de metrô. Demoramos um pouco para encontrar, pois é um sobe e desce de escadas intermináveis. Embarcamos ainda juntos por algumas estações, desci na que era pra mim descer, ela permanecei sentado ouvindo música enquanto minha alma com ela ia mais uma vez embora.

Peguei então um ônibus de volta para casa, uma viagem com mais de uma hora, eu entrava em um sentimento momentâneo de depressão. Porque fui tão vago? Porque não consigo ser normal, como qualquer um em um encontro? Porque sempre tenho medo? Estas perguntas me torturaram, criando duvidas atormentadoras: Será que ela gostou deste encontro? Será que ela esperava algo mais de mim, e fui totalmente o contrário?

Queria poder voltar atrás, fiquei tão triste.

O pior é que ela irá viajar em junho ou em julho, irá passar “um mês” –um mês- (um mês inteiro) viajando. Nossa, cai num pranto torturador. Ela disse logo no início do encontro que precisamos nos ver mais, e exclamou dizendo que só depois da viajem (iria eu aguentar até depois do meio do ano para vê-la?). Meu Deus, porque que tem que ser tão difícil? Mas vou segurar as pontas, vou aguentar, por ela, por um futuro nosso, por tudo.

Espero ter coragem!