Cais
Ele a observava hipnotizado. Jamais poderia imaginar que ela estaria ali a sua espera, depois de tudo que aconteceu na noite passada. Seus olhos marejavam. Ele sentia uma alegria intensa que se mesclava a tristeza que o corroia desde seu desentendimento com ela.
Ela o esperava com o sorriso discreto de sempre. Como se nada estivesse acontecido, ela o fitava com seus esplendidos olhos castanhos, intimando-o a se aproximar dela, com um fulgor de prazer que incendiava a íris de seus olhos.
Ele permaneceu imóvel, mas começou a avançar em passos largos ao encontro de sua amada. Sua respiração se tornou ofegante e um suor frio escorria de sua testa. Sua tez se arrepiava mais e mais, a cada passo que o jovem dava em direção a ela.
Ele observava o vento que circulava por entre as ondas, sacudir os belos cabelos dela, enquanto a garota com um sorriso estonteante abria seus braços para recebê-lo.
O jovem correu rapidamente ao encontro daqueles braços que ele tanto almejava.
Em silencio ele a agarrou, e pressionou seus braços a enlaçando com força, fazendo-a perder o ar. Ele pousou seu rosto sobre o ombro da garota enquanto, sentia o perfume surreal de seus cabelos unidos ao fraco cheiro de maresia.
O casal permaneceu abraçado por alguns minutos, ouvindo apenas o som do vento e do quebrar das ondas na praia abaixo do cais em que se encontravam.
Em meio aquela quietude extasiante eles alinharam seus olhos um em frente ao outro, e se encaravam em um transe inexplicável onde seus sentimentos se misturavam.
Com um leve movimento ele a beijou com intensidade.
A garota pôde sentir o calor da respiração dele nas maçãs do seu rosto e também o aparente nervosismo que ele sentia, pois os braços que a envolviam com força, tremiam sem parar.
Tentando acalmá-lo, a jovem ergueu suas mãos em direção ao rosto que lhe beijava, e acariciando a rala barba de seu amado, foi deslizando levemente as suas delicadas e gentis pontas dos dedos e seguiram reconfortando-o enquanto percorria com suas mãos toda a extensão da face dele.
Uma alegria indescritível percorreu o corpo do jovem rapaz, que continuou completamente relaxado, beijando-a sem pausa.
Ela acompanhava a seu amante naquela sedutora dança com os lábios. Um estímulo inarrável consumia o casal que trocava caricias e beijos apaixonados com apenas o céu, o mar e aquele cais, como suas testemunhas.
Para ambos naquele momento, nada mais importava. Nem as brigas, nem os problemas, nem o trabalho, ou suas famílias. Ambos só se concentravam um no outro. Curtiam-se com empenho.
Depois de tanta ternura entre eles durante o silencio que parecia infinito, cinco pequenas palavras foram pronunciadas pelo jovem, que as expulsou de sua boca com uma expressão de certeza estampada na face para sua amada.
--Eu te amo, meu amor!
Lágrimas, instantaneamente, precipitaram dos olhos de ambos. Só eles sabiam o que a noite passada tinha feito a eles, mas aquelas cinco palavras, reafirmaram os laços potentes e resistentes que os uniam.
Um último beijo e uma resposta da garota firmaram o elo entre eles outra vez.
--Eu também te amo, meu bem!
O casal trocou mais caricias por mais algum tempo e deixando para trás as ondas que infinitamente quebravam e banhavam as areias da praia, eles seguiram seu caminho para longe daquele cais.