SAMARITANO
Foi numa destas noites frias e chuvosas. Valkiria oferecia seu corpo numa estrada. Um carro para e uma voz chama. Ela vai. Baixa a cabeça.Dois rapazes. “Que tal uma festinha boneca?”; “Com os dois?”; “Sim”; “Duzentos reais, por uma hora”; “Feito. Entra aí”. Ela entra. O carro sai em disparada. Chegam num local ermo. A “festa” começa. Sem carinho. Sem respeito. Usam. Abusam. Maltratam. Chegam ao fim. Um deles, o mais forte diz: “Desculpe, mas não tenho dinheiro”. O outro sorri e desfere o primeiro soco no rosto delicado de Valkiria; O outro também soca. Ela tenta sair do carro, mas é jogada pra fora do veículo e os socos transformam-se em chutes. Ela só tenta fugir, gritar... Mas não consegue. Um deles conclui com um pisão. O corpo ensangüentado cai e fica. Eles fogem. A chuva cai mais forte, lavando o chão. Ela tenta, mas não consegue levantar.
Até que... Sente que alguém se aproxima. “Meu Deus, eles voltaram”. “Calma” ouve de uma voz firme, “Vou te ajudar”. Sente quando seu corpo e envolvido por braços fortes que a carregam até um carro. Desmaia.
Acorda num quarto pintado de branco. Um senhor de feições finas e barba, vestido com um jaleco brando olha com curiosidade. “Tudo bem?” pergunta. Ela diz que sim com a cabeça. Sente dores. “Sou o Doutor Hélio e cuidei de você. Mas um pouquinho é você não conseguiria. Te maltrataram bastante, mas você deu sorte de ter sido encontrada a tempo de debelarmos uma hemorragia”. “Onde estou?” pergunta. “No hospital Novo Mundo”. “Novo Mundo? É particular.” “Sim, mas fique tranqüila, seu amigo pagou a despesa”; “Amigo?”; “Sim, o que te trouxe pra cá. Ele te deixou esse cartão. Disse que se quiser mudar de vida e só ligar que ele tem um emprego pra você”. Com certa dificuldade, Valkiria pegou o cartão e leu o nome. Chorou ao lembrar da história que a mãe narrava na sua infância: “Samaritano”.