A ESCOLHA
No meio da madrugada, o telefone toca. Mauro levanta assustado. Tenta acalmar a esposa e vai até a sala.
- Alô
- Mauro?
- É ele.
- Saldanha.
- Ola Sal, o que houve?
- Amigo, venha correndo na 16ª.
- Agora?
- Sim cara. Prendemos seu filho em flagrante num assalto.
Sentiu o rosto gelar. Terminou a conversa com um “Estou indo” e parou. De certa forma sabia, mas ainda assim não queria saber. O filho, Vitor, dezoito anos, há tempos vinha com um comportamento diferente. Mauro, policial civil, com 26 anos de experiência, bem que notou as mudanças, mas optou por deixar que “as coisas se resolvessem por si”. E agora? O que fazer? A primeira coisa foi falar com a mulher, logo depois partiu para a delegacia. Ao chegar foi levado até o filho que de cabeça baixa aguardava numa cela.
- Pai.
Mauro respondeu com um olhar e um silêncio. Ligou para um amigo advogado e saiu.
Bons colégios, carinho, família. O que faltava? Tentou encontrar falhas. Debatê-las com a esposa. Mas nada justificava a opção do filho.
Um mês depois voltou para buscar Vitor, libertado através de um hábeas corpus. Mais uma vez o olhar. Ao entrar na sua casa. Quebrou o silencio:
- Sente aí – Disse.
Vitor obedeceu.
Mauro foi até o quarto e pegou uma pistola. Volta à sala e a joga no colo do filho que assustado olha para o pai.
- É sua – Diz
- Minha? – Pergunta Vitor.
- Sim. Você vai escolher: Pega a pistola, segue a sua vida de bandido e sai da minha casa e da minha vida ou volta a estudar e a viver sua vida junto a mim a sua mãe. A decisão é agora! – Mauro gritou e saiu da sala. O filho sentiu quando uma lágrima molhou seu rosto.
O tempo passou. Hoje, o pai é uma doce lembrança e o filho, escreve este texto num escritório de advocacia, em memória daquele que, ao não se omitir, foi um instrumento de Deus para a vida do filho.
Nota do autor: Conto escrito a partir de uma conversa com o filho, hoje... Pai.