Presentes
Noite quente de verão, início de Fevereiro.
Na praça, sentada num banco úmido e sentindo cheiro de chuva recém caída na grama, ela não mais esperava que a vida lhe entregasse nenhuma surpresa, não lhe desse nenhum presente. Sua própria companhia bastava para que se sentisse confortável.
Do outro lado vem ele, cantarolando baixinho, mãos nos bolsos e chutando pedras. Como se estivesse caminhando sem querer saber onde iria parar. Não queria ir pra nenhum lugar, mas também não queria ficar parado. Estava buscando o que ver, algo novo pra olhar.
A viu. Olhou de novo. Mas seguiu cantando.
Ela não pôde se conter: “Canta mal.” Riram.
Ele se sentou ao lado dela. Conversaram e riram a noite toda. E como riram.
O vento trazia o cheiro agradável da grama e do perfume dela. O sabor de chuva e a sensação do frescor.
Ela via nos olhos dele o reflexo do que sentia e falar de qualquer besteira com ele era fácil.
Ele a enroscava num abraço de perfeito enlaço. Mãos confortáveis e macias.
Aquela noite lhes trouxe um sentimento memorável: deram-se de presente um ao outro.