Incomodada
Jorge Luiz da Silva Alves
Ih, estava incomodada. Arrumou a pasta, saiu rápida e aguardou a carona; Geraldo dirigia preocupado, perguntou zilhões de coisas, mas não era o momento para satisfações, mesmo assim queria soltar a voz, desabafar a loucura que já tomava traços nítidos e firmes no seu coração, só que ele não seria a melhor opção para um desabafo. Estava incomodada. Foi só uma conversa curta depois da aula, esperava que a imaturidade aparecesse em seus semblantes adolescentes mas a maturidade de seus apartes desnorteou-a. Chocou-a. Abalou-a de pronto. Forçou-a a um deslize incomodante. Procurou mentalizar Geraldo no altar de terno-risca-de-giz e o volume na calça boca-de-sino aguardando o momento para consumar a posse daquele feudo que representavam seus fartos e poderosos quadris, mas quem vinha nu na horizontal a penetra-la logo a seguir era o fedelho de olhos penetrantes... e de volume duas vezes mais conquistador, mas que porra!, ela, a pedófila?! A apaixonada?! Não!!! Estava incomodada...
...incomodava o fato da paixão não ter idade. Da vida não se desenvolver em cronologia, mas em relatividade. E quanto mais bizarra, mais forte, sincera e real. Estava incomodada. E não desejava passar a vida inteira assim. Assim sendo...
...aproveitou o sinal vermelho e saiu do carro, rubra em calores e decisões. Atravessou a pista rumo à praia logo ali, jogou o material, a bolsa, os sapatos e, de roupa e tudo, jogou-se no mar bravio, a despeito dos gritos de Geraldo, dos olhares de quem não sabia do que lhe queimava por dentro. Queria não se afogar, mas afogar a resposta que dera ao rapazote após a aula, aquilo que comprometera sua posição social, seu futuro de senhora, sua respeitabilidade católica-apostólica-pagã. Saiu das águas renovada. Não era mais a Dona Esther. Era simplesmente Mulher. Beijou Geraldo, desculpou-se pela loucura e, sem mais, encharcada de vida, fez meia volta e decidira mergulhar fundo na verdade incomodante.
http://www.jorgeluiz.prosaeverso.net
Jorge Luiz da Silva Alves
Ih, estava incomodada. Arrumou a pasta, saiu rápida e aguardou a carona; Geraldo dirigia preocupado, perguntou zilhões de coisas, mas não era o momento para satisfações, mesmo assim queria soltar a voz, desabafar a loucura que já tomava traços nítidos e firmes no seu coração, só que ele não seria a melhor opção para um desabafo. Estava incomodada. Foi só uma conversa curta depois da aula, esperava que a imaturidade aparecesse em seus semblantes adolescentes mas a maturidade de seus apartes desnorteou-a. Chocou-a. Abalou-a de pronto. Forçou-a a um deslize incomodante. Procurou mentalizar Geraldo no altar de terno-risca-de-giz e o volume na calça boca-de-sino aguardando o momento para consumar a posse daquele feudo que representavam seus fartos e poderosos quadris, mas quem vinha nu na horizontal a penetra-la logo a seguir era o fedelho de olhos penetrantes... e de volume duas vezes mais conquistador, mas que porra!, ela, a pedófila?! A apaixonada?! Não!!! Estava incomodada...
...incomodava o fato da paixão não ter idade. Da vida não se desenvolver em cronologia, mas em relatividade. E quanto mais bizarra, mais forte, sincera e real. Estava incomodada. E não desejava passar a vida inteira assim. Assim sendo...
...aproveitou o sinal vermelho e saiu do carro, rubra em calores e decisões. Atravessou a pista rumo à praia logo ali, jogou o material, a bolsa, os sapatos e, de roupa e tudo, jogou-se no mar bravio, a despeito dos gritos de Geraldo, dos olhares de quem não sabia do que lhe queimava por dentro. Queria não se afogar, mas afogar a resposta que dera ao rapazote após a aula, aquilo que comprometera sua posição social, seu futuro de senhora, sua respeitabilidade católica-apostólica-pagã. Saiu das águas renovada. Não era mais a Dona Esther. Era simplesmente Mulher. Beijou Geraldo, desculpou-se pela loucura e, sem mais, encharcada de vida, fez meia volta e decidira mergulhar fundo na verdade incomodante.
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