* Alice, naquela tarde, sorria gostoso.
 
Ela preparava um jantar comemorativo.
Alice e o esposo, Marcos, completavam bodas de prata.
 
Durante a manhã, ela fez questão de nada comentar, trocou uma ou duas palavras com o marido, no entanto planejava secretamente uma surpresa bastante especial.
Alice, temperando com afeto e muita emoção, queria oferecer o prato predileto de Marcos, uma lasanha a qual o faria “lamber os beiços”.
A simpática senhora não esqueceu de comprar um ótimo vinho. Ela buscou a ajuda de Seu Oscar, comerciante do bairro.
 
Valia a pena revisar todos os detalhes.
A ocasião pedia esmero e atenção.
 
Claro que não faltaria a música que embalou o começo do romance. Numa festa inesquecível os dois jovens tão sonhadores se conheceram e dançaram “A Volta do Boêmio!”.
Um mês depois, no badalado casamento, fizeram questão de tocar e dançar a canção que ficou imortalizada com Nélson Gonçalves.
 
* Faltando meia hora para a chegada do marido, Alice estava sentada, usando um lindo vestido branco o qual comprara no dia anterior.
 
Ela decidiu inaugurar um dos seus perfumes preciosos.
A mesa, decorada com enorme dedicação, ofuscava o ambiente.
 
Vinte minutos depois o telefone tocou, Marcos informou que chegaria atrasado uma hora, pois decidiu participar de uma breve comemoração envolvendo um colega do trabalho.
 
* Após o marido, que revelou afobação no telefonema, concluir o aviso, Alice começou a sentir um imenso desencanto.
O gentil Marcos, que sempre recordou a data mais do que ela, dessa vez parecia totalmente esquecido.
 
Ela olhou a mesa, fixou a vista na incrível torta que mandou preparar e passou a nutrir mil reflexões sem qualquer brilho no olhar.
 
Nos primeiros anos da união Alice tentou demais engravidar, porém logo descobriu que uma gravidez ameaçaria sua saúde.
Optaram, então, por desistir dos filhos e combinaram talvez adotar uma criança quando os anos avançassem.
Isso nunca a incomodou, pois a amizade do esposo supria qualquer eventual sensação de vazio. Nesse momento, entretanto, Alice lastimou os filhos que não tinha.
 
Não demorou, as lágrimas desfizeram a cuidadosa maquiagem a qual Alice estava utilizando.
Logo o marido chegaria, mas manter a boa aparência perdera o sentido. Estar bonita agora significava uma vaidade boba.
 
* Apesar da grande tristeza, Alice deixou um leve sorriso surgir no rosto.
 
Recordando a primeira dança, o instante inicial de um amor à primeira vista, ela conseguia escutar a música na mente.
 
Boemia, aqui me tens de regresso...
 
Retomando a realidade, Alice também escutava a cancão.
Estranhou porque não era mais uma nostálgica lembrança.
Percebeu que, lá fora, algumas vozes unidas cantavam a música.
Parecia uma serenata. 
Era uma serenata.

Marcos resolveu surpreender Alice. Ele conseguiu.
 
* Conferindo através da janela, Alice viu quatro homens cantando com grande empolgação, ressaltando uma elegância ímpar.
 
De repente a campainha tocou, meio trêmula Alice foi abrir.
O marido sorridente falou:
_ Você achou que eu esqueceria nossas bodas de prata, meu amor?
Abraçando a esposa, Marcou notou a fascinante mesa.
_ Oh, minha flor! Eu frustrei o nosso jantar que deve ter dado...
_ O jantar apenas será servido um pouco mais tarde, querido!
 
* Na parte exterior, vizinhos curiosos acompanhavam o casal dançando enquanto o quarteto executava outra vez A Volta do Boêmio.
 
A cena era realmente linda.
Marcos e Alice, ignorando a platéia, repetiram o beijo do passado com o mesmo fervor de outrora.
As pessoas da rua aplaudiram.
Marcos enxugou uma lágrima da esposa, que parecia estar vivendo o melhor conto de fadas.
 
Nessa emocionante história, protagonizada por Alice e Marcos, sempre brilharam encantadores versos, propostos por uma inspiração cheia de uma ternura a qual o tempo só fez crescer.

Quis o contagiante enredo que prevalecesse a paz preenchendo a alma dos dois eternos apaixonados.

Um abraço!
Ilmar
Enviado por Ilmar em 29/03/2014
Reeditado em 31/03/2014
Código do texto: T4748225
Classificação de conteúdo: seguro