Ao som do violino
Elisa acordou certa manhã ao som de um violino, pensou ainda estar sonhando, mas logo descobriu que na realidade havia alguém tocando o instrumento nas redondezas. Como gostava imensamente de música, logo se levantou da cama e ainda de pijama, foi até o quintal para tentar descobrir de onde viria o belo som.
Descobriu que o som vinha da casa de sua vizinha, dona Dirce, e estranhou que ela ou o marido estivessem aprendendo a tocar violino, pois já eram de idade avançada. Imaginou que talvez fosse algum hospede, pois eles não puderam ter filhos, mas na casa sempre havia um sobrinho neto passando uma temporada, uma sobrinha desempregada, ou um irmão de férias.
Elisa ficou um bom tempo escutando os doces acordes que produziam uma bela melodia, notou que não conhecia a música tocada e se julgava grande conhecedora de música clássica e erudita. Pensou que gostaria muito de conhecer que m estivesse tocando, mas ficaria sem graça de bater na porta de dona Dirce e perguntar: “Posso conhecer quem está tocando o violino, por favor?” Sorriu da ideia e quando a música terminou foi se trocar para começar o seu agitado dia.
Passado quase um mês da primeira vez que ouviu o violino Elisa notou que não o escutava mais, pois todos os dias, de manhã e a tarde ficava ouvindo a pessoa que tocava, queria conhece-la mais do que nunca, mais ainda não havia tido coragem. Nesse dia porém, não ouviu o violino. Passou-se uma semana e ainda nada de música.
Elisa sentia falta, já havia se habituado e se apaixonara pelo violinista, fosse quem fosse, era mais uma paixão musical. Por coincidência, nesse dia encontrou dona Dirce saindo de casa e criou coragem e disse:
- Bom dia dona Dirce, faz tempo que queria te perguntar quem era que tocava o violino todos os dias...
- Ah, minha filha, era o meu sobrinho neto, estava passando uma temporada aqui comigo. Ele queria muito conhecer você sabia? Ele te escutava brincando com seus cachorros e dizia que a sua risada era o som mais lindo que ele já havia escutado.
- Mas ele já foi embora? Porque a senhora não trouxe ele aqui em casa?
- Eu devia mesmo ter trazido ele aqui, mas ele não queria de jeito nenhum, falei muitas vezes para ele de como você era boazinha e faria companhia para ele, sabe meu bem, ele tinha a sua idade.
- Como assim “tinha” dona Dirce, o que aconteceu com ele?
- Você não soube? Ele tinha leucemia e estava já em estado terminal, semana passada ele passou mal e levamo-lo para o hospital, passou lá três dias e morreu coitadinho.
Uma lágrima escorreu dos olhos de Elisa, não sabia como explicar, mas sentia que conhecia aquele rapaz, sua música, sua alma, e agora ele estava morto. “Eu deveria ter perguntado antes! Poderia tê-lo conhecido, poderia ter passado algum tempo com ele, feito amizade com ele e aliviado um pouco o medo do fim.” Pensou Elisa.
- Eu deveria ter chamado você para conhecer ele, Elisa! – Disse dona Dirce chorando de remorso.
Nunca deixe para depois o que você pode fazer hoje.